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Brasileiro ganha Prêmio Mundial na área de Meio Ambiente

30 out 2003

 

Nova Iorque, EUA - O brasileiro Dener Giovanini, fundador e coordenador geral da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) é um dos escolhidos para receber o  prêmio Sasakawa de Meio Ambiente 2003. O prêmio será entregue pelo secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, em Nova Iorque, no próximo dia 19 de novembro.

Giovanini irá dividir os US$ 200 mil com Xie Zhenhua, responsável pela nova política de desenvolvimento sustentável da China. Antes de Giovanini, o seringueiro Chico Mendes foi o único brasileiro premiado com o Sasakawa, em 1990.

Com a divulgação do prêmio, esperamos que o problema do tráfico de animais silvestres ganhe visibilidade e entre na pauta do dia do governo brasileiro”, diz Giovanini. “Falta conhecimento aos formuladores de políticas públicas quanto à dimensão do problema e  quanto o país perde com este mercado ilegal. Claro que isso se reflete nas deficiências dos órgãos fiscalizadores que não têm pessoal, estrutura e recursos para um combate mais efetivo”.

A ausência de políticas públicas junto às comunidades mais carentes, que alimentam o tráfico de massa, sobretudo de pássaros, papagaios e araras chama a atenção de Giovanini. Para ele, a falta de opção de renda faz com que maioria dos habitantes destas comunidades retirem os animais da natureza e os entreguem aos traficantes. “Já o tráfico de espécies mais raras ou ameaçadas de extinção envolve quadrilhas organizadas, associadas às quadrilhas de traficantes de drogas e armas”.

Ambientalista desde os 15 anos, Dener Giovanini se interessou pelo combate ao tráfico de fauna quando foi secretário de Meio Ambiente de Três Rios, município do Rio de Janeiro, e conheceu as dificuldades em fazer apreensões, mesmo atuando junto à polícia. Fundou, então, a Renctas, em 1999, para disseminar informações e capacitar fiscais e policiais e tornar mais eficazes as apreensões.

Desde que a Renctas começou a atuar, aumentaram as apreensões e o índice de sobrevivência dos animais apreendidos. Até então, de cada dez animais, nove morriam durante a captura e transporte. Novos números serão divulgados em 2004, no segundo relatório da ong sobre o tráfico de animais. Estima-se que os traficantes movimentem perto US$ 1,5 bilhão por ano.

Em nota à imprensa, Klaus Toepfer, diretor executivo da UNEP, afirmou que tanto Giovanini quanto Xie Zhenhua “demonstraram, um ao nível governamental e o outro ao nível social, como podem ser resolvidos problemas complexos, aparentemente insolúveis, que estão diante do mundo. Ambos mostraram visão, paciência, pragmatismo e uma compreensão da necessidade de engajar e encorajar numerosos atores e parceiros para que o desenvolvimento sustentável seja percebido". Xie Zhenhua é vice presidente do Conselho Chinês para a Cooperação Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CCICED) e ministro da Administração Estatal de Proteção Ambiental da China (SEPA. O prêmio tem este nome em homenagem a Ryoichi Sasakawa, criador da Fundação Nippon, que o patrocina desde 1984.

O Tráfico de Animais

Levantamento realizado pela Renctas, em 2001, revelou que no Brasil 38 milhões de espécimes são retirados anualmente da fauna, número acima da estimativa oficial de 2 milhões. A informação é do Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre que mostrou que o comércio ilegal movimenta no país US$ 1,5 bilhão por ano. O  Brasil fornece 95% das espécies vendidas ilegalmente. O tráfico de animais é o terceiro comércio ilegal do mundo, perdendo para drogas e armas e movimenta algo entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões por ano.

Segundo o trabalho, 60% dos animais capturados são comercializados no mercado interno e 40% vão para o exterior. As espécies traficadas vão para quatro tipos de destinatários: colecionadores particulares, indústrias químicas e farmacêuticas (biopirataria), artesanato e pet shops. Um filhote de jibóia é vendido por valores entre US$ 800 e US$ 1 mil nos Estados Unidos. Para a biopirataria, seguem animais venenosos (aranhas, cobras, escorpiões e sapos amazônicos). O artesanato utiliza partes de animais (penas, ossos, garras, dentes e peles). Nos pet shops, são vendidos araras, papagaios, tucanos, pássaros de canto e peixes ornamentais, que chegam a custar US$1.500. Dos animais traficados, 82% são aves, preferidas por causa da beleza da plumagem e do canto e, de cada dez animais, nove morrem durante a captura e transporte.

Boa parte do comércio atende a colecionadores, mas a pirataria ganha espaço a cada dia. Dados da Renctas, revelam que há entre 350 e 400 quadrilhas internacionais especializadas em animais silvestres. As principais rotas de tráfico partem das regiões Norte (Amazonas e Pará), Nordeste (Maranhão, Piauí, Pernambuco e Bahia) e Centro-Oeste (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). De lá, os animais são escoados para o Sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro) e Sul (Paraná e Rio Grande do Sul), e vendidos em feiras livres ou exportados através dos principais portos e aeroportos. Os destinos internacionais são Estados Unidos, Europa (Portugal, Espanha, Alemanha, Holanda, Suíça, Itália e França) e Ásia (Japão e Singapura). Existe ainda uma rota importante de retirada de animais silvestres brasileiros através das fronteiras dos estados da Amazônia onde recebem documentação falsa para seguirem o caminho do tráfico.

Sobre o Renctas

A RENCTAS é uma ong que desenvolve ações de combate ao tráfico de animais silvestres.  Entre elas, estão a realização de campanhas nacionais e internacionais de conscientização, cursos, treinamentos e workshops para a capacitação e qualificação de agentes responsáveis pela fiscalização ambiental, apoio e desenvolvimento de projetos de pesquisa e conservação da fauna, elaboração de bancos de dados, programas de controle e suporte às operações de fiscalização e elaboração de relatórios sobre essa atividade criminosa.

Com apenas 11 membros efetivos e o apoio de cerca de 900 voluntários, em todo o país, a Renctas já realizou cursos e workshops de treinamento em 16 estados e tem novas reuniões programadas para mais 5 estados. Os voluntários são estudantes, professores,  biólogos e veterinários que trabalham com educação ambiental ou acompanham as apreensões para cuidar dos animais. Dos workshops participam policiais federais, rodoviários e fiscais de órgãos ambientais federais, estaduais e municipais. Entre as informações transmitidas estão desde técnicas utilizadas pelos traficantes para esconder os animais ou falsificar documentos até legislação e modo de transportar ou avaliar o estado de saúde da fauna apreendida e prestar os primeiros socorros.

 

Sítio relacionado

RENCTAS - www.renctas.org.br

 


Última atualização: 21 outubro, 2003 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
 
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