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Protocolo de Quioto: consenso e incertezas
A tática exclusiva do governo americano, passou a ser
também o discurso do governo da Rússia
4 out 2003
Moscou, Rússia - Ser ou não ser, ou melhor, existe ou não existe
base científica suficiente do tal aquecimento global? Claramente esta foi a
pauta da Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas
(World Climate Change Conference - WCCC), realizada em Moscou entre
29 de setembro e 03 de outubro. A Conferência teve como objetivo promover uma
ampla discussão científica sobre as questões relacionadas à mudança do clima.
Na visão de muitos participantes, foi literalmente um banho de água fria
sobre o Protocolo de Quioto. Especialmente pelo fato de, que há agora, sérias
dúvidas, por parte do governo russo, se devem ou não ratificar o Protocolo. O
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, não só descartou a oportunidade para
anunciar a ratificação do Protocolo por seu governo, colocando-o em vigor; como
também reforçou as incertezas científicas sobre a existência do aquecimento
global. A tática exclusiva do governo americano, passou a ser também o discurso
de Putin.
A insegurança econômica dos russos e do presidente em ratificar o
Protocolo pôde ser ilustrada durante a apresentação do conselheiro chefe do
governo para assuntos econômicos, Andrei Illarionov. É claro que a economia
russa não pode estacionar, mantendo sua emissão de carbono estabilizada, nem
agora, nem em 2012, quando o primeiro período de compromisso estabelecido pelo
Protocolo termina (seu início será em 2005), disse Illarionov. Segundo ela, se
os Estados Unidos e a Austrália calcularam que não podem arcar com os custos,
econômicos relacionado à redução das emissões, muito menos o seu país poderá
fazê-lo.
Mas, deixando de lado as evidentes e, até certo ponto, compreensivas
preocupações econômicas do governo russo, a sua renovada preocupação com as
incertezas científicas parece não fazer sentido neste momento histórico das
negociações internacionais sobre a mudança do clima. Isto porque tais incertezas
científicas têm existido desde o início das negociações.
Apesar de contarmos, hoje, com um número muito maior de estudos, se
comparado há alguns anos, muitos deles continuam produzindo incertezas. E vai
ser assim sempre. Esta é a característica básica da ciência. Evolui por polêmica
e não por consenso. Contudo, há um inegável consenso científico geral sobre a
questão climática. Mais de 1000 cientistas que fazem parte do Painel
Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC), concordam que o aquecimento
global está em curso e que este se dá por razões antropogênicas. Não é pouco?
Dezenas de sínteses científicas sobre mudança climática têm sido
produzidas pelo IPCC ao longo dos últimos anos. Tal consenso não pode ser
desprezado em favor das várias incertezas, como foi a tendência assumida por
alguns participantes presentes na WCCC em Moscou. Isto porque a concordância
científica conseguida através do IPCC, e, aparentemente, não conseguida por
aqueles que negam a existência do aquecimento da atmosfera como uma conseqüência
da ação humana, representa um ponto fundamental para a continuidade das ações
políticas em prol da vigência e implementação do Protocolo de Quioto. Portanto,
a luz do consenso científico até então alcançado, é preciso que se tome uma
decisão política de seguir em frente com as negociações que resultem na
viabilização do Protocolo.. Sem esta decisão, a discussão se nós devemos ou não
esperar por mais certezas e menos incertezas, antes de partirmos para ações
concretas, pode se tornar infinita e a espera, por sua vez, eterna.
Saite relacionado
http://www.wccc2003.org/index_e.htm
Texto da Jornalista Milena Del Rio do Valle e de Paulo Moutinho,
pesquisador, do IPAM-Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
Última
atualização: 03 outubro, 2003 - ©
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