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Defendida a integração dos Sistemas Nacionais de Meio Ambiente e de Recursos
Hídricos
Seja pela aglutinação de leis ou pela
desmistificação da participação popular, a defesa da água pode "valer a pena".
10 out 2003
Porto Alegre, RS - Governabilidade dos recursos
hídricos foi o painel apresentado na tarde de sexta-feira, 10, durante o
Fórum Internacional das Águas, realizado em Porto Alegre, no Centro de
Eventos da Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do RS).
Participaram Volnei Zanardi Júnior, Diretor do Departamento
de Articulação Institucional do MMA, representando o Secretário
ExecutivoCláudio Langone, Eduardo Figueroa, especialista ambiental do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), Rosana Garjulli, socióloga e gerente
executiva da Superintendência de Articulação Institucional da ANA (Agência
Nacional das Águas) e da antropóloga Ana Luíza Carvalho da Rocha, professora do
Laboratório de Antropologia Social da UFRGS e do Instituto Anthropos.
O painel foi interrompido com a chegada do senador Pedro
Simon (PMDB-RS) e do presidente da ARI (Associação Riograndense de Imprensa),
Ercy Torma. O Senado Federal é uma das entidades que apóiam a realização do
Fórum. Na ocasião, o senador defendeu a continuidade do evento, "pelo
crescente reconhecimento de que a água será o problema deste século, superando o
do petróleo". Simon citou ainda a importância da manutenção da Amazônia da
cobiça internacional, garantindo esse ecossistema como patrimônio da humanidade,
mas de domínio brasileiro. "Podemos ser um grande país ou um país que não
teve a competência para defender seus interesses", enfatizou o senador.
Transversalidade: o foco hoje é reducionista
Zanardi Júnior defendeu a aproximação e articulação entre os
Sistemas Nacionais de Meio Ambiente (Lei 6938/61) e de Recursos Hídricos (Lei
9433/97). Isso porque "hoje, o foco no trato da água é reducionista e
unidimensional, o que limita a gestão dos recursos hídricos", analisa, ao
defender um olhar multidimensional ou mesmo transversal sobre as diversas
dimensões da água, como econômica, social, cultural e ambiental.
"Nos últimos cinco anos, o nível de investimentos do Banco
Interamericano de Desenvolvimento tem diminuído", afirma Eduardo Figueroa,
especialista Ambiental do BID, ao destacar que hoje são investidos de US$ 75 a
US$ 80 bilhões por ano, apesar das estimativas indicarem a necessidade de
investimento anual de US$ 180 bilhões.
Figueroa destaca a existência, no mundo, de 75 milhões de
pessoas sem acesso à água potável e 116 milhões sem saneamento. "Os bancos de
desenvolvimento têm, como compromisso, reduzir essas condições de água e
saneamento pela metade até 2015", diz o especialista em Recursos Hídricos e
Meio Ambiente ao BID, ao lamentar que a água é um recurso escasso, tem um
conceito generalizado de bem público sem valor, possui custo abaixo do valor
real e, além disso, há muito desperdício e contaminação.
Para reverter essa situação, Figueroa defende alguns
princípios que devem ser incorporados em todos os projetos de investimentos do
BID. Entre esses princípios, estão o reconhecimento do valor econômico da água e
da importância do ambiente na gestão da água, a definição do contaminador e do
usuário pagador, a participação dos usuários e sociedade civil em geral, a
utilização de avanços tecnológicos e a melhoria do sistema de informação.
Para Figueroa, "deve-se criar consensos e consciência de
que a água é um problema global, mas requer uma ação local. A responsabilidade é
de cada cidadão".
Participação
A socióloga Rosana Garjulli, da ANA (Agência Nacional das
Águas), analisou o significado do controle social de uma política pública a
partir da década de 80, com o fortalecimento dos movimentos sociais e populares,
"que se refletiu na Constituição de 1988, dando direitos de participação
social na gestão, no planejamento e na definição de orçamentos públicos".
Ela também cita a definição do Sistema Nacional de Recursos Hídricos (Lei
9433/97) e, na sequência, da ANA (Agência Nacional das Águas), no ano 2000,
através da Lei 9984.
"Apesar de um bem público, a água tem valor econômico,
pela escassez e contaminação", afirma a socióloga. "Além disso e apesar
da potencialidade, a implantação da gestão das águas apresenta desafios, como o
de superar a visão obreira e de hidráulica que temos da água", diz Garjulli.
Para ela, o Estado tem autonomia, mas é preciso pactuar os interesses de toda a
sociedade.
"Para isso, os riscos e desafios são grandes, porque não
temos experiência na participação popular. Temos pouco exercício de cidadania",
diz a socióloga, ao defender a redefinição de vários paradigmas na relação
Estado e sociedade, como político, tecnológico, cultural e institucional.
"Existe um vácuo entre a definição legal e a prática institucional, além da
pouca transparência e da resistência à participação efetiva da sociedade no
controle do bem público", reforça a socióloga, ao defender a água como um
aglutinador para se trabalhar a participação coletiva".
Já para a antropóloga Ana Luíza Carvalho da Rocha,
"estamos perdendo o sentido do humanismo e de pertencer a um meio". Ou seja,
a água é essencial, mas não acessível a todos. "A contaminação e a degradação
de fontes atinge mais de um milhão de pessoas no mundo", analisa Ana Luíza,
ao afirmar a existência de uma relação entre a crise da água e o sedentarismo.
Ela faz uma análise da sobrevivência dos povos nômades, que sofrem pelas nossas
atitudes, que comprometem a qualidade e mesmo a quantidade da água.
Uma alternativa incorporada pelas mulheres massai
(nômades), em países como Nepal, Índia e algumas ilhas do Pacífico, é a de
recolher a água da chuva em reservatórios de até 520 mil litros de água. A água
da chuva é utilizada para cultivar legumes. "Aprimorar técnicas continuará
sendo um desafio", diz a antropóloga, ao defender o multiculturalismo na
formação dos pactos sociais.
Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues,
adriane@ecoagencia.com.br para a
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Última
atualização: 13 outubro, 2003 - ©
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