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Nova campanha da Rede de ONGs da Mata Atlântica
Ambientalistas querem proteção urgente da
floresta com Araucária
ONGs defendem medidas em estudo no Ministério do Meio
Ambiente, que enfrentam forte oposição de madeireiros e ruralistas
Desmatamento ilegal em
Floresta com Araucária flagrado por ambientalistas
catarinenses no município de Ponte Serrada (SC), em novembro de 2002.
Crédito: Wigold B. Schäffer
Brasilia, DF - A Rede de ONGs da Mata Atlântica, coalizão que integra
257 entidades da sociedade civil (ONGs), lança nesta quarta-feira (17) uma
campanha de âmbito nacional reivindicando medidas urgentes para proteger os
remanescentes da Floresta com Araucária, um dos mais ameaçados ecossistemas do
domínio da Mata Atlântica. A campanha está ancorada no site
www.rma.org.br, no qual os cidadãos podem
enviar mensagens ao presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, e a
outras autoridades federais.
O lançamento da Campanha SOS
Araucárias ocorre no momento em que empresários do setor madeireiro e
proprietários rurais se mobilizam contra a adoção de medidas governamentais para
proteger os remanescentes de Floresta com Araucária. Essas medidas, que estão em
estudo no Ministério do Meio Ambiente (MMA) desde o início de 2002, resultaram
na interdição de 200 mil hectares nos estados do Paraná e Santa Catarina, área
considerada prioritária para a criação de unidades de conservação desses
remanescentes.
O anúncio da interdição, realizada através de duas
portarias publicadas pelo MMA em dezembro passado, resultou em uma forte
mobilização de empresários madeireiros, ruralistas, prefeitos e políticos dos
dois estados, que desde o início do ano pressionam o Governo Federal para
anulá-las. Ao mesmo tempo, madeireiros e ruralistas contrariados decidiram
acelerar o desmatamento dos remanescentes localizados nas áreas interditadas,
com o intuito de descaracterizá-los e, assim, inviabilizar sua proteção por meio
de unidades de conservação, conforme denunciado em julho passado na imprensa do
Paraná.
Apesar de proibida pela Justiça, exploração continua
A Floresta com Araucária, cientificamente chamada Floresta Ombrófila Mista,
recobria cerca de 170 mil km² do território brasileiro e em pouco mais de um
século de exploração ficou reduzida a 5% dessa área, segundo dados do Ministério
do Meio Ambiente. É uma das mais originais formações florestais do Brasil, na
qual se destaca o pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia), árvore de
grande porte que, apesar de constar da lista oficial do Ibama como espécie
ameaçada de extinção desde 1992, continua sendo explorada comercialmente.
A conservação e a recuperação dos remanescentes de Floresta com Araucária no
Sul do Brasil, incluindo a decretação de unidades de conservação em áreas
prioritárias, é uma reivindicação antiga de ambientalistas e de entidades de
defesa da Mata Atlântica. A mobilização em sua defesa resultou no ingresso de
uma ação civil, em dezembro de 2000, por parte do Instituto Socioambiental (ISA)
em parceria com a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), que liminarmente
suspendeu a exploração das espécies ameaçadas de extinção na Mata Atlântica,
segundo a lista oficial do Ibama.
No âmbito desse esforço, em 2001 o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama) aprovou a Resolução no 278, suspendendo temporariamente
as autorizações de corte para as mesmas espécies.
"Apesar de proibida, a exploração comercial continua
sendo feita, muitas vezes com autorização de alguns funcionários corruptos do
Ibama", afirma a catarinense Miriam Prochnow, coordenadora-geral da Rede de
ONGs da Mata Atlântica.
Ela lembra que, em novembro de 2002, durante um sobrevôo
na região dos municípios de Ponte Serrada e Passos Maia, ambientalistas
registraram imagens de um grande desmatamento em Floresta com Araucária,
exibidas no programa Fantástico, da Rede Globo. Uma inspeção por terra no mesmo
local confirmou a exploração ilegal de pinheiro brasileiro, realizada pela
Indústria de Madeiras Tozzo S/A que, em sua defesa, exibiu uma autorização do
Ibama, dada em flagrante desrespeito à decisão judicial e à Resolução do Conama.
"Em agosto passado, 15 caminhões carregados com toras de pinheiro e outras
espécies ameaçadas foram vistos em estradas do município de Atalanta, no Vale do
Itajaí, deixando claro que os exploradores continuam agindo com extrema
facilidade", assegura a ambientalista
Histórico Recente
Medidas para salvar a
Floresta de Araucária esbarram em interesses políticos e econômicos locais
A adoção de medidas governamentais que assegurem a
conservação e a recuperação dos remanescentes de Floresta com Araucária no Sul
do Brasil, como a criação de unidades de conservação em áreas prioritárias, é
uma reivindicação antiga de ambientalistas e de entidades de defesa da Mata
Atlântica. Essa mobilização em defesa dos remanescentes resultou no ingresso de
uma ação civil, em dezembro de 2000, por parte do Instituto Socioambiental (ISA)
em parceria com a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), que liminarmente
suspendeu a exploração das espécies ameaçadas de extinção na Mata Atlântica,
segundo a lista oficial do Ibama. No âmbito desse esforço, em 2001 o Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovou a Resolução no 278, suspendendo
temporariamente as autorizações de corte para as espécies ameaçadas de extinção.
No início de 2002, o Governo Federal, por meio do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), instituiu um Grupo de Trabalho (GT) para
formular uma política de conservação para esse ecossistema no Estado de SC. O
relatório final desse GT embasou a edição de duas portarias federais, editadas
em dezembro de 2002. Entretanto, a reação de interesses econômicos e políticos
afetados pelas portarias tem causado atrasos no processo de criação dessas
unidades de conservação, bem como na adoção de medidas complementares visando a
recuperação do ecossistema e seu uso sustentável. Além disso, a sociedade civil
está desinformada sobre o andamento desse processo, cuja cronologia publicamos
abaixo.
06/02/02 – MMA INSTITUI GT PARA A FLORESTA COM ARAUCÁRIA
O MMA institui, através da Portaria nº 49, GT para
elaborar um estudo e apresentar propostas de preservação dos remanescentes e de
recuperação de áreas degradadas com o objetivo de promover a conservação do
ecossistema da Floresta com Araucária em Santa Catarina. Entre suas atribuições
está incluída a identificação de áreas prioritárias para a criação de unidades
de conservação, com prioridade para unidades de proteção integral em razão da
enorme fragmentação e redução das dimensões dos fragmentos florestais
remanescentes.
Junho de 2002 – GT FINALIZA SEU RELATÓRIO
O GT entrega seu relatório, recomendando as seguintes
medidas, a serem tomadas de forma imediata:
a) criação de Estações Ecológicas nas áreas dos
remanescentes florestais nativos existentes na região Noroeste de Santa
Catarina;
b) criação de uma Área de Proteção Ambiental visando
implantar um corredor ecológico entre as Estações Ecológicas, que poderia
conectar-se a remanescentes da região Sudoeste do Paraná;
c) ampliação do Parque Nacional de São Joaquim;
d) criação de um Parque Nacional abrangendo áreas nos
municípios de Santa Terezinha, adjacentes à Área de Relevante Interesse
Ecológico da Serra da Abelha.
- O GT recomenda a criação de um programa para a criação
de unidades de conservação e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs)
municipais em todos os fragmentos de Floresta com Araucária acima de 10
hectares e um programa de incentivo à criação de RPPNs para constituir
corredores ecológicos em duas regiões de Santa Catarina, importantes para
proteger o hábitat natural do papagaio charão e a diversidade genética da
Araucaria angustifolia.
- O GT recomenda ainda uma moratória de 12 meses no
plantio de pinus sp e eucaliptos no entorno dos fragmentos com mais de 100
hectares, propondo que neste período seja realizado estudo e adotadas medidas
para evitar o seu isolamento por plantações de árvores exóticas.
Novembro de 2002 – DESMATAMENTO
DE ARAUCÁRIA FLAGRADO EM SC
Durante um sobrevôo realizado no noroeste de Santa
Catarina, ambientalistas catarinenses registram imagens de derrubada de madeiras
de espécies ameaçadas de extinção em remanescentes de Floresta com Araucária nos
municípios de Passos Maia, Abelardo Luz e Ponte Serrada.
Várias ilegalidades são constatadas, como exploração de
floresta em área de preservação permanente e desmatamento para plantio de pinus
em áreas remanescentes, com corte raso de espécies ameaçadas de extinção.
Em Ponte Serrada, uma inspeção por terra confirma a
exploração ilegal, realizada pela Indústria de Madeiras Tozzo S/A. São
encontradas várias toras de Araucaria angustifolia
reunidas junto a estradas, aguardando transporte para os pátios da serraria. A
inspeção constata ainda a existência de várias árvores em pé selecionadas para
um abate futuro, o que indica exploração sob plano de manejo aprovado pelo
Ibama, em flagrante desrespeito à decisão judicial e à resolução do Conama.
A empresa apresenta documentos que comprovam o
consentimento ilegal do órgão ambiental.
As imagens do desmatamento são veiculadas no programa
Fantástico, da Rede Globo, em 8 de dezembro. Um laudo decorrente dessa inspeção
é enviado para ser anexado à ação civil que corre na Justiça
20/12/02 – MMA INTERDITA ÁREAS NO PR E SC PARA CRIAÇÃO
DE UCs
O Ministério do Meio Ambiente, amparado em estudos
produzidos pelo próprio Ministério e no que dispõe o Decreto no 750/93 e a
Resolução CONAMA no 278, edita as Portarias no 507 e no 508 considerando
prioritárias para a criação de unidades de conservação cinco áreas de
remanescentes de Floresta com Araucária no Paraná, totalizando 170 mil hectares,
e três áreas em Santa Catarina, incluindo os fragmentos desse ecossistema,
totalizando cerca de 40 mil hectares.
As portarias determinam que o Ibama realize os estudos
necessários à criação das unidades de conservação (Art. 2 o), restringe a
supressão de espécies nativas nessas áreas (Art. 3o) e suspende temporariamente
“o plantio de espécies exóticas no interior e no entorno das áreas descritas”
(Art. 4o).
A publicação das portarias suscita forte reação contrária
por parte dos interesses econômicos afetados, de políticos e de prefeitos
municipais das áreas interditadas.
Início de março de 2003 – INTERESSES CONTRÁRIOS VÃO À
BRASÍLIA
Em reunião no Ministério do Meio Ambiente, com a presença
da ministra Marina Silva e de auxiliares, uma comitiva de parlamentares,
prefeitos e empresários, com cerca de 50 pessoas, do Paraná e de Santa Catarina
manifesta sua oposição às portarias e exigem a sua anulação.
Ao fim da reunião, a ministra decide que o MMA e o Ibama
fariam uma análise técnica das portarias e promoveria entendimentos com os
governadores dos dois estados sobre o assunto. Uma nova reunião entre os
envolvidos é agendada. Ruralistas alegam que, se aplicadas literalmente, as
restrições ao plantio de espécies exóticas inviabilizariam a agricultura de
grãos nas regiões afetadas pelas portarias.
25/03/03 – NOVA REUNIÃO EM BRASÍLIA
Representantes do Ministério do Meio Ambiente, secretários
de Meio Ambiente do Paraná e de Santa Catarina, prefeitos das regiões afetadas
pelas portarias, pesquisadores, representantes da Rede de ONGs da Mata Atlântica
e outros ambientalistas se reúnem em Brasília.
O secretário de Meio Ambiente do Paraná reconhece a
situação crítica do ecossistema no estado, aponta o que considera falhas na
Portaria no 507 e propõe ajustes, especialmente no artigo 4o, de modo a definir
a que espécies exóticas o texto se refere. O secretário do Bem Estar Social,
Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Santa Catarina e o representante dos
prefeitos pedem a mera revogação das portarias, embora afirmem concordar com
medidas que protejam os remanescentes de Floresta com Araucária. A RMA e os
ambientalistas defendem os objetivos das portarias, concordam com ajustes na
redação e enfatizam a necessidade de medidas de curto prazo para assegurar a
proteção dos remanescentes.
O laudo produzido em dezembro, sobre desmatamento ilegal
em SC, é entregue à ministra do Meio Ambiente. O Secretário de Biodiversidade e
Florestas do MMA reconhece o problema na redação das duas portarias e se
compromete a corrigi-los. Afirma, ainda, que o Governo Federal, através do
Ibama, pretende criar um programa integrado que envolva os governos estaduais,
institutos de pesquisa, ONGs e a iniciativa privada na proteção e recuperação da
Floresta com Araucária.
Dessa reunião resulta a criação de um Grupo de Trabalho,
integrado por representantes do MMA, incluindo o Ibama; das secretarias
estaduais de Meio Ambiente de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; de
ONGs, pesquisadores e da Federação de Trabalhadores na Agricultura de cada um
desses três estados; de Associação de Prefeitos de cada um dos três estados; do
Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e da Embrapa
Florestas, do Paraná. O ambientalista paulista Paulo Nogueira-Neto integra o GT
como convidado especial.
Abril de 2003 – IBAMA INICIA OPERAÇÃO, MAS NÃO DIVULGA
RESULTADOS
Com base no laudo produzido pelos ambientalistas de Santa
Catarina, entregue à ministra Marina Silva, o Ibama inicia operação de
fiscalização nas regiões apontadas. As primeiras informações da operação indicam
a identificação de centenas de focos de desmatamento e exploração ilegal no
estado.
Embora a proposta previsse a participação das ONGs nessa
operação, o órgão não as incorpora e não divulga os resultados atualizados das
incursões nas áreas apontadas pelo laudo. Até o momento, a sociedade civil
continua sem saber se houve prisões, quanto planos de manejo ilegais foram
detectados, se multas ou outras punições foram aplicadas e quem são os
agressores.
07/04/03 – PORTARIAS SÃO REEDITADAS COM AJUSTES
O MMA edita as Portarias nos 176 e 177 com ajustes na
redação dos artigos 3o e 4o das Portarias nos 507 e 508. A nova redação do
artigo 4o especifica que as restrições ao plantio no interior das áreas
delimitadas pelas portarias de dezembro de 2002 referem-se a espécies exóticas
utilizadas em reflorestamento, ressalvando que não se aplica a atividades
agrícolas.
12/06/03 – GT SE REÚNE EM CURITIBA
É realizada em Curitiba (PR) a primeira reunião desde a
formação do GT, em Brasília. O Ibama informa que o órgão iniciou os estudos e
que depende de informações dos governos dos estados e dos demais atores
envolvidos para completá-los. O MMA anuncia a adoção das seguintes medidas:
análise de seus programas para identificar ações e instrumentos que possam
propiciar a proteção da Floresta com Araucárias; interlocução com o INCRA, para
tratar das desapropriações para fins de reforma agrária nas áreas descritas
pelas Portarias nos 507 e 508; criação de um banco de dados comum entre as
instâncias federal, estadual e municipal sobre a situação do ecossistema.
Os governos estaduais, incluindo o Rio Grande do Sul, se
comprometem a fornecer as informações de que dispõem para os estudos do Ibama e
a identificar financiamentos, inclusive decorrentes de medidas ambientais
compensatórias, para investir na proteção dos remanescentes de araucária.
O governo gaúcho manifesta interesse em fazer estudos para
a criação de novas UCs. As ONGs oferecem as informações que dispõem para
auxiliar a criação das UCs, bem como colaborar para dirimir o “clima de terror”
criado pela edição das portarias. As empresas do setor florestal e agrícola se
comprometem a adotar medidas para impedir que os remanescentes de Floresta com
Araucária sejam invadidos por pinus. Centros de pesquisa proverão informações
sobre a degradação genética do ecossistema.
25/07/03 – SPVS DENUNCIA DESMATAMENTO NO SUL DO PR
Biólogos da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e
Educação Ambiental (SPVS) denunciam desmatamentos em remanescentes de Floresta
com Araucária na região de Palmas, sul do Paraná, e em Santa Catarina. Segundo a
denúncia, veiculada na imprensa do estado, proprietários de terras com
remanescentes intensificaram o corte raso desse ecossistema após a publicação
das Portarias nos 507 e 508.
O desmatamento visaria descaracterizar biologicamente
essas áreas de remanescentes, a fim de impedir que sejam protegidas pela criação
de unidades de conservação.
Início de agosto de 2003 –
NOVA DENÚNCIA DE DESMATAMENTO EM SC
A RMA recebe denúncia de retirada de araucária de áreas
remanescentes no município de Atalanta, no Vale do Itajaí (SC). Cerca de 15
caminhões com toras da espécie foram vistos circulando no município.
25/08/03 – GT SE REÚNE EM SANTA CATARINA
O GT realiza sua segunda reunião, desta vez em Santa
Catarina. A RMA e ambientalistas catarinenses denunciam o desmatamento flagrado
em Atalanta dias antes e cobram do Ibama informações sobre a situação da
operação realizada no estado, sem consegui-las.
O MMA informa que estará sistematizando todas as
contribuições do grupo visando produzir uma proposta de conservação para os
remanescentes de Floresta com Araucária nos estados de Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. As ONGs cobram dos representantes do governo, especialmente
do Ibama, uma data para a conclusão dos estudos e para a apresentação da
proposta.
Segundo o Secretário de Biodiversidade e Florestas do
Ministério, o documento com as propostas sistematizadas e discutidas pelo GT
deverá ser apresentado à ministra Marina Silva em nova reunião do GT ainda em
setembro.
Assessoria de Imprensa da RMA
Última atualização:
06 setembro, 2011 - ©
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