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Amory Lovins explica aos brasileiros o potencial do hipercarro e do hidrogênio

Assessoria de Imprensa do Ministério do Meio Ambiente - MMA
17-ago-03 - Fotos de Martin D´Avila/MMA.

Brasília, DF - O físico Amory Lovins, do Instituto Rocky Mountain, é um dos mais importantes cientistas independentes dos Estados Unidos, consultor de governos, empresas e organizações não-governamentais. Visionário, ele desenvolveu há 12 anos o hipercarro, um veículo seis vezes mais eficiente que deve ser produzido em série nos próximos anos.

Polêmico, publicou em 1999 o livro Capitalismo Natural, junto com Paul Hawken e Hunter Lovins. Militante, Amory Lovins foi um dos renomados pensadores ecológicos que participou da primeira edição dos Diálogos para um Brasil Sustentável, que aconteceu de 12 a 15 de agosto na Academia de Tênis de Brasília.

O evento, que trouxe subsídios para a Conferência Nacional do Meio Ambiente, marcada para o final de novembro, foi uma realização do Ministério do Meio Ambiente em parceria com Fritjof Capra, Instituto Ecoar e Projeto Brasil Sustentável e Democrático. Nesta entrevista concedida à assessoria de imprensa do MMA, Amory Lovins explica o potencial do hipercarro e fala da resistência que o uso do hidrogênio vem enfrentado nos Estados Unidos.

Diálogos - O hipercarro criado em 1991 pelo Rocky Mountain Institute teve a sua patente aberta há dez anos. Qual a diferença desta tecnologia em relação aos veículos convencionais?

Amory Lovins - O hipercarro é um veículo mais eficiente. Ele é muito leve, pois não é feito de metal, mas de compostos de fibra de carbono - um material semelhante, porém mais barato ao utilizado nos carros de Fórmula 1 - com baixa resistência do ar devido à aerodinâmica. Estas propriedades significam que ele precisa três vezes menos energia para andar. Com um motor à gasolina comum melhora a eficiência em três vezes. Se o motor for híbrido-elétrico, a eficiência melhora quatro vezes. Se for híbrido com diesel é cinco vezes mais eficiente. E com a célula de combustível com hidrogênio o hipercarro melhora até seis vezes a eficiência em comparação com os automóveis convencionais. O motor e o tanque também têm um tamanho três vezes menor.

Diálogos - E o desempenho?

Amory Lovins - O veículo que desenvolvemos em 2.000 na nossa pequena firma - Hypercar Inc. (www.hypercar.com) - é um automóvel para cinco pessoas, alcança 100 km/h em 8,3 segundos, com uma autonomia de 530 quilômetros. Ele tem menos da metade do peso de um carro convencional simular devido à fibra de carbono, mas apesar de ser mais leve é também mais resistente. Ele pode bater em uma parede a 56 km/h e proteger os passageiros.

Diálogos - E quando este veículo mais eficiente será produzido em massa?

Amory Lovins - Nós não somos uma montadora de veículos, nós desenvolvemos tecnologia e design para as montadoras. Com investimentos agressivos, a produção em série pode começar em 2007 ou 2008. Hoje o preço seria competitivo com um veículo esportivo de luxo. Mas ele pode competir com carros médios - como o Ford Explorer - se os projetistas alcançarem mais um estágio de refinamento, o que reduziria em 1/4 os custos.

Diálogos - Durante os Diálogos para um Brasil Sustentável em Brasília, houve muita resistência dos técnicos e ecologistas brasileiros à idéia defendida pelo Rocky Mountain Institute de fazer a transição da economia do petróleo para a economia do hidrogênio. Por quê?

Amory Lovins - Esta resistência não é incomum. Muitas pessoas não compreendem o hidrogênio tão bem como eles imaginam. Eu acabo de publicar um texto sobre isso no nosso website - www.rmi.org  - chamado Twenty Hydrogen Myths - "Vinte mitos sobre o hidrogênio". Estes mal entendidos são muito comuns. Parte desta resistência é política. O mesmo acontece nos Estados Unidos. 

Diálogos - O recente apoio do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, à transição para o hidrogênio influencia esta resistência?

Amory Lovins - Muito. Eu tenho certeza que a resistência dos norte-americanos se deve ao apoio do presidente Bush e de muitas empresas de petróleo e também de energia nuclear. Então muitos ambientalistas acreditam que é algo ruim. E como muitos ecologistas são contra o Wall Street Journal também acha que é algo ruim. Muitos não entendem bem, então são contra ou favoráveis por falsas razões. Como os defensores da energia nuclear que apóiam achando que vão salvar a sua tecnologia, mas na verdade o hidrogênio vai acabar ainda mais rápido com a tecnologia nuclear. Os políticos estão muito confusos. E estamos tentando mostrar o que é verdadeiro do ponto de vista tecnológico e econômico.

Diálogos - Como o hidrogênio pode ser usado no Brasil?

Amory Lovins - No curto prazo, pode ser usado para fornecer energia para prédios que precisam de fontes de energia confiáveis de alta qualidade, por exemplo para manter em funcionamento computadores e equipamentos médicos em hospitais. As células de combustível já são competitivas hoje, como demonstrou recentemente o meu colega Joel N. Swisher, que também participou dos Diálogos, em um trabalho chamado Cleaner Energy, Greener Profits. Outro uso valioso é na substituição da gasolina nos automóveis. Convertendo, por exemplo, hidroeletricidade ou energia eólica em hidrogênio. Este futuro é surpreendentemente atrativo também para empresas de petróleo. Em geral, o hidrogênio nos hidrocarbonetos é mais valioso sem o carbono do que com o carbono. Mesmo que ninguém pague você para não colocar o carbono na atmosfera.

Diálogos - De todas as propostas trazidas aos Diálogos para um Brasil Sustentável pelo senhor e pelo Dr. Joel Swisher, quais devem ser mais consideradas pelos técnicos do governo, pesquisadores e ecologistas brasileiros?

Amory Lovins - O princípio do menor custo para fazer investimentos em energia. E ter certeza que as companhias de distribuição que estão vendendo eletricidade são premiadas não por vender mais uma commoditie, mas por reduzir a sua conta de luz. É possível fazer isso separando o lucro destas empresas do volume de energia vendido, não premiando por vender mais e não penalizando por vender menos. E depois permitindo um lucro extra pela energia economizada, ajudando a ser mais eficiente.


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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