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Ar poluído continua a matar trabalhadores no RS

Não existe pesquisa que ligue a qualidade do ar nos ambientes de trabalho com a saúde dos trabalhadores

 

EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
17-ago-03

Porto Alegre, RS - Nos dias de hoje, muita gente ainda morre pela má qualidade do ar que respira. Pior: isso ainda acontece no Rio Grande do Sul. Muitos gaúchos passam a vida inteira aspirando substâncias tóxicas. A procura por ametista e outra semi-preciosas faz com que famílias inteiras, com exceção das mulheres, mergulhem terra abaixo, não se importando com as péssimas condições de trabalho.

 

Dr. Carlos Nunes Tietboehl Filho
- médico especialista em doenças respiratórias ocupacionais -  Foto de Carlos Stein para a EcoAgência de Notícias - stein@ecoagencia.com.br

    O médico Carlos Tietboehl Filho, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, lembra do caso de um rapaz que faleceu aos 27 anos com silicose, na região de Ametista do Sul, no Norte do Estado. O pó dos ambientes confinados das jazidas que ele circulou ao longo da vida se alojou nos pulmões da vítima.

Mas ele aponta que este foi apenas um dos casos detectados. Há muitos outros que não são registrados como doença provocada pela má qualidade do ar. Há exigências junto às empresas, mas o controle é difícil. Segundo a coordenadora das Ações Técnicas da Fundacentro, fundação que faz pesquisas na área do trabalho, não está em andamento qualquer pesquisa que envolva meio ambiente e saúde do trabalhador no Estado.

    A questão é considerada um problema de saúde pública, além de ser uma equação difícil de se ser resolvida sob os pontos de vista ambiental e social, lembra Tieteboehl, que também atua no Serviço Social da Indústria e na Secretaria de Saúde do Estado. Ele conta que os garimpeiros trabalham em túneis de 200 metros, expostos a explosões e desmoronamentos. “Quem olha essas lojinhas que vendem pedras, cristais não imagina o sacrifício os trabalhadores na extração”, coloca o médico.

    Ele conta como é literalmente “dura”, a vida dos garimpeiros: só recebem por aquilo que oferece valor comercial, não têm qualquer vínculo empregatício (nada de assistência médica, previdência social e um salário fixo) e ainda têm família para sustentar. É por isso que todos homens da prole ajudam na procura por uma boa pedra. Crianças, a partir de sete anos já estão na labuta. Mesmo com todas estas dificuldades, esses homens não param por nada. Tietboehl lembra de uma vez que a fiscalização do Ministério do Trabalho chegou a fechar algumas mineradoras. Mesmo assim, “os trabalhadores continuaram trabalhando, pois disseram que se parassem iam morrer de fome,”observa o pneumologista.

Várias atividades geram doenças respiratórias

    Assim como a extração de semi-preciosas, há o caso do arenito que também provoca doenças ocupacionais no Estado. A avaliação de Tietboehl é de que hoje a maior causadora de doenças ocupacionais provocadas pela má qualidade do ar é a mineração, o mais informal de todos trabalhos com potencial de poluidor do ar. Em segundo lugar, vem a indústria, principalmente a petroquímica, a metalúrgica e a de plásticos e também as atividades que produzem poeiras vegetais, como armazenagem de grãos e aviários, onde uma grande quantidade de ração é manuseada.

    Por último, as atividades que aparentemente não são insalubres, são as que têm aumentado a incidência de doenças ocupacionais: aquelas realizadas em ambientes fechados, especialmente as realizadas nos chamados “edifícios doentes”.

    Os trabalhadores do setor terciário estão entre os mais atingidos pela asma ocupacional. Muitas vezes os ambientes de escritórios que estão contaminados pelo ar condicionado com fungos e bactérias, ou por tintas de divisórias, cola, que emitem toxinas e provocam uma série de problemas de saúde, ou ainda pelo impacto do funcionamento de equipamentos, como o de uma fotocopiadora, exemplifica o médico.

    Os sintomas para esses casos são sistêmicos, isto é, podem ser vários ao mesmo tempo ou não, como rinite, dor-de-cabeça, náusea, entre outros. Em metade dos casos, as manifestações tendem a ficar crônicas, podendo ocasionar até o afastamento e a aposentadoria do trabalhador.

    Tietboehl cita uma estimativa que aponta cerca de 100 mil casos de asma no Estado. Destes, 10% são provocados pelo exercício da profissão. Em outros países, como os Estados Unidos este índice é de 15% e no Japão de 2%.

    Apesar deste quadro, ainda não existe qualquer controle ou pesquisa que cruze os dados de qualidade ambiental e saúde pública, não só com relação a saúde do trabalhador, quanto a saúde da população em geral. Não existe ainda nem um procedimento nos hospitais ou postos de saúde para que os pacientes com doenças respiratórias respondam um questionário para a construção de estatísticas.

    AMIANTO - A médica do trabalho da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, Virgínia Dapper, informa que será feito um cadastramento dos trabalhadores expostos ao amianto em quatro grandes indústrias do Rio Grande do Sul: Brasilit, Isdralit, Fras Le e Duroline. Os fabricantes terão que deixar de utilizar o amianto até junho de 2004. E o prazo para comercialização é até 2005. Ela lembra que esta substância é cancerígena e pode provocar efeitos no longo prazo.

    Mas Virgínia reconhece a gravidade da situação da mineração. O arenito, também conhecido como pedra gres também afeta muitos trabalhadores. Foram notificados casos suspeitos de silicose em Mampituba, município gaúcho, na fronteira com Santa Catarina. “De 30 casos, três foram confirmados”, conta a médica. Ela informa que os exames prosseguem no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, e que a prefeitura do município também terá que monitorar os casos.

    Ela reconhece a necessidade de se reunir informações dos órgãos envolvidos no contexto, como a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental, que realiza o monitoramento do ar na Região Metropolitana e Rio Grande e a Secretaria Estadual da Saúde. Este é um dos projetos do Sistema de Vigilância Ambiental, que deverá ser implantado ainda este ano no Estado, com o apoio da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária.

Poluição do ar matou 4,5 mil em uma semana na Inglaterra

    Vale a pena lembrar que na Inglaterra somente se acordou para o problema da poluição do ar depois que muita gente morreu. Foi o que aconteceu em Londres, em 1952. Naquele tempo, o carvão era utilizado para praticamente tudo, por indústrias e nas residências em áreas densamente ocupadas.

    Em uma semana, morreram 4.5 mil pessoas devido a altíssima poluição da capital inglesa. Entre dezembro e janeiro, chegaram a falecer 12 mil moradores da cidade. “Isso é considerado um marco na história do combate a poluição”, lembra Jouni J. K. Jaakkola, consultor da Organização Mundial de Saúde, um dos palestrantes do III Congresso Interamericano de Qualidade do Ar. Depois disso, observa, salientando que a partir deste fato “as autoridades acordaram para o problema e restringiram as emissões”.

    O que piora a situação em países em desenvolvimento como o Brasil, é a complexidade da situação, incluindo a pobreza, a má nutrição, a falta de higiene, entre outros fatores, coloca o finlandês. Estes fatores, diz o especialista, dificultam o controle da poluição do ar. Ele conta que na Europa, há o empenho das autoridades em diminuir as fontes de emissão. Há cada vez mais taxas para quem quer comprar carro, o combustível é caro e os governos têm investido pesado em transporte coletivo, principalmente em trens e metrô, cita Jaakkola.

Jornalista Sílvia Marcuzzo, Reg. Prof. 7551,Exclusivo para a Ecoagência, silvia@ecoagencia.com.br 


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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