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Pulmões dos Trabalhadores enrijecem com as poeiras
EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
26-jul-03
Trabalhadores expostos a sílica (SiO²), que atuam em siderúrgicas, minas de carvão, marmorarias, fábricas de vidro e cerâmica, construção civil, jateamento de areia e até mesmo na agricultura estão entre as maiores vítimas de pneumoconiose. Este é o nome genérico atribuído a diversas doenças cuja característica básica é o enrijecimento do tecido pulmonar, podendo levar à tuberculose e ao câncer. Com a exposição contínua e em altas concentrações, a sílica (que está presente na areia comum) torna-se uma doença fatal, levando a um sofrimento crônico e, em alguns casos (dependendo da intensidade da exposição), à morte precoce.
O pneumologista Eduardo Algranti, pesquisador da Fundação Jorge Duprat de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro/SP), mostrou, em seu painel, na manhã de ontem (25/7), no
3° Congresso Interamericano de Qualidade do Ar, como os trabalhadores adoecem por respirarem ar contaminado com partículas como a sílica, com diâmetro inferior a 10 micra. “Elas conseguem entrar no sistema respiratório e podem paralisar os brônquios”, explicou. As formas de deposição nos pulmões são a sedimentação, a inércia e a difusão. As partículas maiores depositam-se principalmente pela inércia. As de tamanho intermediário sedimentam-se, e as muito pequenas difundem-se. “Depois que uma partícula se deposita nos alvéolos, o pulmão reage”, afirmou Algranti, explicando que a retirada desses “corpos estranhos” acontece por transporte mucociliar. algo rotineiro para o organismo, já que as partículas são impelidas, pelo muco das vias aéreas, para a glote – são engolidas ou expelidas em forma de catarro.
“Mas uma parte dessas partículas entra no compartimento de retenção, desencadeando-se um processo complexo, que é a chave para o desenvolvimento de pneumoconioses”, alertou o médico.
Algranti destacou que o amianto e a sílica estão entre as partículas inaláveis mais perigosas para a saúde. Além dos trabalhadores em minas, os que atuam em marmoraria, com jateamento de areia e com artes plásticas (esculturas) e próteses dentárias também podem estar expostos.
"A toxicidade depende da dimensão das partículas, da área de superfície, das propriedades da superfície da poeira, das agressões simultâneas a que o trabalhador está exposto e de fatores genéticos",
explicou o médico.
AGRICULTURA – Quem trabalha junto a silos, com cereais, e potencial candidato a silicose. A informação foi dada pelo médico Carlos Nunes Tietboehl Filho, especialista em riscos ambientais no setor agrícola, que atua no Sesi RS e no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. De acordo com ele, há inúmeras atividades rurais que expõem o trabalhador a alergias, sinusites e outros males derivados de poeiras como a do trigo, da juta, do sisal e do tabaco. Até mesmo rações para animais podem causar contaminação por bactérias e fungos produtores de toxinas.
“O uso de pesticidas na agricultura é um capítulo à parte, deveria haver mais informações sobre os efeitos maléficos que isto causa aos trabalhadores”, admitiu Tietboehl Filho. “Sem falar na amônia, presente em fezes e urina de animais, e na fumaça das queimadas, do diesel ou de fornos a lenha”, enumerou.
Entre as doenças e sintomas verificados em um levantamento realizado na região nordeste do Rio Grande do Sul, o médico citou a asma ocupacional, síndromes agudas semelhantes à asma – muitas delas agravadas em épocas de colheita – aperto no peito e dores de garganta. “Há também a febre dos grãos, causada pelo pó de cereais, que surte no trabalhador um efeito semelhante ao da gripe comum”, observou. Tietboehl citou ainda um estudo da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, segundo o qual 45% das mortes por intoxicação, no Brasil, são causadas por biocidas. Somente no Rio Grande do Sul, disse, houve 231 casos de intoxicação por pesticidas formalmente registrados na Secretaria Estadual da Saúde, no ano passado.
Jornalista Cláudia Viegas -
claudia@ecoagencia.com.br para a EcoAgência de Notícias -
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Última atualização:
06 setembro, 2011 - ©
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