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Movimento ecológico gaúcho deve retomar seu papel histórico  - Artigo de Vera Damian

- EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
07-abr-03

pela Jornalista Vera Damian – vera@damian.com.br, para a EcoAgência de Notícias

 

“As raízes do ambientalismo gaúcho são profundas na terra e antigas na luta”, descreve Tereza Urban no livro Missão (quase) Impossível (editora Fundação Peirópolis), que traça uma panorâmica da história dos movimentos ecológicos no Brasil.

A pesquisadora foi convidada especial do Encontro Estadual de Entidades Ecológicas do ano passado. Neste ano, em sua 24ª edição, o EEEE preferiu se deter na organização de base, que deve resultar em encontros de entidades por bacias hidrográficas. Ou seja, água acima de tudo.

O Movimento Ecológico Gaúcho – MEG - passou o final de semana de 4 a 6 de abril discutindo em Caxias do Sul suas interfaces com o Paradigma Holístico (tema do encontro) e definindo eixos de luta.

A tese guia do EEEE propunha que “os ecossistemas naturais e os assentamentos humanos continuam a ser o ponto de partida e de chegada para a reintrodução e implementação da sustentabilidade em todos os níveis”. Detalhes como este de incluir os ecossistemas naturais e os assentamentos humanos na mesma ordem de importância é que fazem toda a diferença entre o pensamento mecanicista – também chamado cartesiano - e o pensamento holístico - ou sistêmico.

No pensamento mecanicista, o universo é visto como uma espécie de grande máquina composta de partes encaixadas, onde os seres humanos se percebem como o centro do universo (etnocentrismo). Na definição de Fritjof Capra, “a vida em sociedade é vista como uma luta competitiva pela existência e com a crença num progresso material ilimitado a ser obtido por intermédio do crescimento econômico e tecnológico”.

O padrão holístico/ecológico dá ênfase ao todo (holos) e considera que todos os fenômenos ou eventos se interligam e se inter-relacionam de uma forma global e, por isto, são interdependentes.

História Natural

Não se sabe exatamente quando começou a luta ambiental no Rio Grande do Sul, mas como toda história precisa de um ponto de partida ela é contada a partir de Henrique Luís Roessler, um funcionário público estadual que, já em 1939, conseguiu ser credenciado pelo Ministério da Agricultura para atuar como fiscal voluntário na defesa do Rio dos Sinos.

Em 1955 ele fundou a UPN - União Protetora da Natureza que no futuro seria apontada como a primeira entidade de luta ambiental no Brasil. Por esta mesma época (1941) o naturalista e padre jesuíta Balduíno Rambo traçava em livro uma radiografia da natureza do Estado e denunciava a derrubada indiscriminada das florestas.

Em 1971, cinco meses antes da criação do próprio Greenpeace, era fundada concomitantemente em Porto Alegre e em São Leopoldo a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – Agapan. As dificuldades financeiras que até hoje permeiam a entidade se explicam não só pela sua localização em pais de terceiro mundo, mas também pela proposta mantida até hoje de priorizar o trabalho voluntário como forma de manter sua autenticidade e autonomia. Até por isto faz questão de se identificar como uma “entidade ecológica” e não como uma “organização não-governamental”.

A Agapan viria a inspirar a fundação de várias outras “PANs” nas décadas de 70 e 80. Destes tempos o Movimento Ecológico Gaúcho – MEG – ainda ostenta várias vitórias e o pioneirismo na luta contra os agrotóxicos e pela defesa das águas. No Vale dos Sinos surgiu o primeiro Comitê de Águas do Brasil e a pioneira lei das águas gaúcha inspiraria a criação da nacional. A adesão de organizações científicas, civis e comunitárias ao Movimento impediu a instalação de uma usina nuclear no Estado e posteriormente regulou a implantação de um pólo petroquímico impondo um rigor no tratamento de efluentes praticamente desconhecido para a época.

Nos anos 90, com o meio ambiente se tornando mais uma “commoditie” a ser explorada, o estilo MEG de luta chegou a parecer meio demodê, diante de tantas iniciativas ambientais.

Mas, com as bençãos de Tupan (deus na língua tupi) e sob a vigilância do espírito de ambientalistas do passado e do presente, as PANs resistem. Só no Vale do rio dos Sinos – terra de Henrique Roessler - são oito entidades na ativa.

O Movimento Ecológico Gaúcho se propõe a ser holístico desde “verdes anos”, com descentralização de poder e trabalho em rede. Neste formato criou a Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente – Apedema – que reúne 22 entidades, num conceito de democracia horizontal e com coordenação colegiada.

Foi esta Assembléia Permanente que definiu no último final de semana que o MEG não está disposto a escrever no futuro a história dos transgênicos no Rio Grande do Sul como uma derrota do passado. Depois de “olhar sobre a nossa realidade “ (título do encontro), deve definir ações que estão sendo aguardadas com expectativa por toda a sociedade contrária aos transgênicos.

Este é o MEG em movimento.


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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