A biodiversidade e o alto nível de endemismo devem trazer novos recursos para pesquisa e conservação
EcoAgência de Notícias
04-abr-03
Belo Horizonte, MG - Depois de uma semana de trabalho intenso, o Workshop Sul-Americano de Anfíbios, que reuniu 70 pesquisadores, conclui a revisão de mais de mil espécies, com a certeza de ainda ter muito trabalho pela frente. O evento, organizado em Belo Horizonte-MG, pela ONG ambiental Conservation International, faz parte de uma estratégia global, dirigida pela IUCN - The World Conservation Union, para construir uma base de dados consistente desse grupo de animais e definir suas prioridades de conservação.
Das 600 espécies de anfíbios registradas no Brasil, 455 (76%) são endêmicas, ou seja, não existem em nenhuma outra parte do planeta. Mais da metade dessas espécies encontra-se na fragmentada Mata Atlântica. Isso ocorre não somente em razão de sua alta pluviosidade, com grande quantidade de micro-ambientes úmidos muito apreciados pelos anuros (sapos, rãs e pererecas), mas também pelo terreno acidentado da região da Serra do Mar, o que gera isolamento geográfico das populações e conseqüente surgimento de novas espécies. Na Mata Atlântica, já foram catalogadas 372 espécies de anfíbios, sendo 260 (70%) endêmicas.
Os serviços ambientais, isto é, os benefícios gerados pela natureza que são essenciais à sobrevivência da sociedade, como os recursos hídricos e do solo, o equilíbrio dos regimes climáticos, a polinização, dentre outros, são argumentos com alto poder de persuasão na conservação do meio-ambiente. Os anfíbios desempenham um serviço de alto valor dentro dessa lógica. “Eles são verdadeiros sensores ambientais, denunciam a degradação de uma área antes de qualquer outra espécie e, se estudados, global e sincronicamente, eles têm a capacidade de comunicar o que está acontecendo com nosso planeta. São como um alerta vermelho”, descreve o zoólogo da USP, Miguel Trefaut Rodrigues.
A sensibilidade dos anfíbios à saúde do meio ambiente também está muito associada a seus diversos modos reprodutivos. Há espécies que depositam seus ovos em meio aquático (água corrente ou parada); em meio semi-aquático (em ninhos de espumas flutuantes ou na vegetação acima d’água); e ainda em ambiente terrestre, no solo da mata. Muitos fatores afetam a atividade reprodutiva dos anuros: a temperatura do ar, a quantidade de chuvas, a luminosidade, além da ação humana. Assim, ao menor desequilíbrio em seus habitats naturais, os anfíbios, sobretudo os anuros, reduzem sua capacidade reprodutiva, podendo-se observar o rápido desaparecimento de populações.
As ameaças aos anfíbios são comuns em todo o mundo: desmatamento e degradação do solo, resultantes de agricultura e pastagem; poluição; exposição excessiva à radiação ultravioleta por conta de buracos na camada de ozônio. Na América do Sul, diferentemente dos EUA e países da América Central, não há registros de deformações físicas e até de extinção de populações inteiras de anfíbios, causadas pelo parasita trematódeo ou pelo fungo Chytrid. “Fungos e parasitas são elementos que existem na natureza, mas temos que fazer esforços para explicar porquê eles estão proliferando sem controle em algumas regiões e atacando mais freqüentemente os anuros. Entender melhor essas observações é um objetivo importante para que possamos prevenir fenômenos similares na América do Sul, onde a biodiversidade é altíssima e os prejuízos seriam dramáticos”, explica Claude Gascon, vice presidente de programas da Conservation International e presidente do Grupo Global de Especialistas em Anfíbios da IUCN
Há cerca de 150 pesquisadores especializados em anfíbios no Brasil, incluindo os alunos de pós-graduação. É uma massa crítica de profissionais qualificados que precisa ser engrossada e receber recursos a fim de instalar novos projetos de monitoramento e conservação. “Reuniões entre especialistas, como aconteceu neste Workshop, são fundamentais para avançar o nosso conhecimento sobre a distribuição das espécies nos ecossistemas, identificar o estado de conservação e as medidas necessárias e prioritárias para a proteção efetiva dos anfíbios”, afirma Luiz Paulo Pinto, diretor da Conservation International para a Mata Atlântica.
A IUCN e a Conservation International, por meio do Grupo Global de Especialistas em Anfíbios, está desenvolvendo um fundo de recursos, que deve ser divulgado assim que as áreas prioritárias estiverem definidas. Ainda restam três Workshops para completar a série de levantamentos em todo o mundo. A expectativa é que a base e a análise de dados esteja concluída e disponível até o fim deste ano.
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