Rede francesa formaliza intercâmbio no RS
EcoAgência de Notícias
01-abr-03
A demanda por produtos não transgênicos na Europa é cada vez maior. E não é apenas por parte dos consumidores, mas dos produtores e pecuaristas, que todos os anos importam farelo de soja para alimentar os rebanhos de suínos, frangos e gado. Somente a França importa, todos os anos, 3 milhões de toneladas de farelo de soja. Cerca de 80% dessa proteína vegetal procede do Brasil. "A demanda por proteína de soja na Europa é muito forte e importante", diz o técnico agrícola francês e presidente da Rede Coerência, Jean-Yves Griot.
Griot está no Rio Grande do Sul desde o último dia 24 e acompanha a polêmica instalada no Estado e no Brasil quanto à liberação da soja transgênica. Para ele, o Brasil tem um papel importante no que se refere à soja. "Se conseguir se livrar da transgenia, a repercussão pode reforçar e muito as relações comerciais com a Europa", diz, ao destacar que "o Brasil não tem nada a perder nesse caminho porque produzir transgênico não tem nenhuma vantagem".
Sua opinião está embasada na experiência que tem à frente de duas grandes associações no oeste da França. Uma é a Rede de Agricultura Sustentável, que engloba 15 departamentos (províncias) nas regiões de Bretagne, Normandie e Pays de Loire, e onde Griot foi presidente enquanto agricultor, produtor de suínos.
Atualmente, Griot preside a Rede Coerência, que reúne 94 associações de produtores, consumidores e de ambientalistas da mesma região do oeste da França. O objetivo dessa Rede é promover o desenvolvimento sustentável, desde a produção, até o consumo.
Jean-Yves Griot é engenheiro de técnicas agropecuárias e, por 10 anos (entre 1967 e 1977), trabalhou no Instituto Técnico da Suinocultura, em Paris. Em 1977, se tornou agricultor e produtor de gado de leite. Isso durou até o final de 2002, quando se aposentou.
Desde o dia 1º de janeiro deste ano, já aposentado, preside a Rede Coerência e, através dela, veio para o Brasil, participar de um Ato de Irmanamento com 900 famílias dos assentamentos Pedras Altas e Hulha Negra, situados no município de Herval, Sul do Estado. O objetivo é orientar e dar apoio técnico a essas famílias na melhoria da qualidade das pastagens, alavancando a produção de leite e a posterior criação de uma indústria de queijos.
Esse intercâmbio nasceu em janeiro 2001, durante o 1º Fórum Social Mundial, e é financiado pela Fundação Danielle Miterand France Libertés. Com o apoio dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e de Agricultura Francesa, seis assentados de Herval foram à França e sete agricultores franceses vieram até Herval, onde discutiram técnicas e repassaram conhecimentos sobre produção e industrialização de queijos.
"Em Herval já existe produção de queijo em pequenas propriedades", anuncia Griot, ao justificar a definição do parceiro. "O município possui 900 famílias de assentados em situação social difícil, a maioria vinda do Norte do Estado. Essas pessoas recebem pouca ajuda e quase nenhuma formação".
É a segunda vez que Jean-Yves Griot vem ao Brasil. Numa primeira vez, em 2001, visitou agricultores da região de Chapecó, oeste de Santa Catarina. Sua expectativa é "viabilizar a produção de leite e melhorar a qualidade de alimentação e de vida dessas comunidades".
Colaboração da jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues/EMATER para a EcoAgência de Notícias