Texto de Michel Camdessus, ex-diretor do FMI, foi mais debatido do que a própria Declaração Final do Fórum de Quioto
EXCLUSIVO - Direto do Japão - EcoAgência de Notícias
21-mar-03
por Carlos Tautz*
O relatório de Michel Camdessus, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional, sobre financiamento de futuras obras de infraestrutura de água, foi criticado tanto pelas organizações não governamentais, seus opositores mais típicos, quanto de Richard Jolly, que durante 15 anos dirigiu a Unicef, a seção da ONU para infância. "Ele perdeu uma ótima oportunidade", comentou Jolly, a respeito do estudo que sugere o aumento de US$ 75 bilhões para US$ 180 bilhões do total a ser investido até 2015 para reduzir a metade o número de pessoas que não têm acesso a água potável e saneamento.
O relatório de Camdessus e a estratégia de financiamento a projetos relacionados à água, do Banco Mundial, serão as bases da reunião do G-8, o grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia. Em junho, seus chefes de estado vão a Evian, na Franca, discutir pela primeira vez na história do grupo a crise da água no mundo. Richard Jolly falou durante o Fórum Internacional da água, que vai até domingo, em Quioto, no Japão, e observou que, durante o evento de Quioto, o Relatório Camdessus atraiu mais atenção do que a Declaração Final do encontro, que está sendo discutida por cerca de 150 ministros.
"O relatorio não atende as necessidades dos mais pobres", resumiu Jolly, que até o ano passado era secretario geral assistente da ONU e coordenou cinco edições do Relatorio de Desenvolvimento Humano. "Camdessus não propôs uma nova engenharia financeira internacional que possibilite fazer com que esse dinheiro beneficie quem sofre com a maior tragédia dos últimos 50 anos, que é a falta de acesso à água", avaliou Jolly, um dos coordenadores da ONG WSSCC, que estuda problemas e soluções para a crise da água."O Fundo Monetário Internacional, que em boa medida é responsável pela inviabilidade financeira de grandes obras de infraestrutura, deveria colaborar para atingir essas metas. Retomando os princípios que orientaram a sua fundação em 1947", ensinou o economista e professor da Universidade Sussex, na Inglaterra.
Para Richard Jolly, há dinheiro público e privado disponíveis no mundo para atender não apenas a metade dos sem água (hoje quase 1,2 bilhão de pessoas), mas a todos. "E não podemos desprezar a capacidade que o setor público demonstrou na última metade do século. Os serviços públicos provêem água e saneamento a cerca de cinco bilhões de pessoas, enquanto corporações transnacionais vendem esse serviço para 300 milhões de pessoas. Podemos discordar das empresas publicas, mas não podemos imaginar que a privatização seja a panacéia para resolver todos os problemas".
Outra que atacou o relatório Camdesses foi a médica indiana Vandana Shiva. "O relatório não discute a poluição, desperdício e mau uso da água. Foca apenas na construção de mais barragens, canais e diques. A única maneira de resolver essa crise e manter a água sob domínio público e não privatizá-la, como propõe o relatorio Camdessus", afirmou Vandana, durante a manifestação que reuniu perto de 100 ativistas na porta do centro de convenções em Quioto. Durante o protesto, lideres de ONGs de mais de 50 países revezaram-se nas críticas ao fórum. Eles confirmaram a realização, em janeiro de 2003, do Fórum Social Mundial das Águas, na Índia.
Jornalista Carlost Tautz - tautz@ecoagencia.com.br - EcoAgência de Notícias
*Viajou a Quioto a convite da Fundacao Ford.