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Soja transgênica não é lucrativa", diz sojicultor norte-americano que está no Brasil

EcoAgência de Notícias
17-mar-03

"Desisti dos transgênicos porque não davam a produtividade e o lucro que eu desejava". A declaração foi dada por Rodney Nelson, um produtor de soja dos Estados Unidos, hoje [17/03] de manhã a representantes do Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento [Formad] em Cuiabá e que momentos antes havia se encontrado com o governador de Mato Grosso Blairo Maggi. Acompanhava Nelson, Dennis Kitch, ex-diretor da divisão de biomateriais do US Grain Council, baseado no Japão e que atualmente presta consultoria para empresas que desejam exportar soja.

A produtividade, que sempre foi um dos principais argumentos de empresas que apostam nessa tecnologia, como a Monsanto, responsável por mais de 90% do total da área plantada com cultivos transgênicos no mundo em 2001 está sendo questionada por pesquisadores e sendo alvo de críticas de produtores rurais e economistas que conhecem em teoria e prática esses produtos. "O preço da semente transgênica é cerca de 12% maior que a convencional", explica Kitch, garantindo as principais razões dos agricultores em adotarem os trangênicos está na facilidade de manuseio e na atração de se estar utilizando uma tecnolgia avançada.

Entretanto, Kitch assegura que o Brasil não deveria seguir a mesma tendência dos Estados Unidos e Argentina, que têm a maior parte de sua área plantada de soja transgênica. "O Brasil é o único grande produtor de soja não-transgênica e que pode se beneficiar comercialmente com isso", afirma. De acordo com o consultor seria extremamente importante o país garantir sua posição para poder exportar soja convencional. "São grandes os riscos de contaminação das sojas convencionais por transgênicas", adverte. Além do risco de contaminação por animais e insetos polinizadores, existe o risco de contaminação em safras de soja convencional em solo onde anteriormente havia sido plantada soja transgênica.

Outro problema percebido por Kitch se refere às conseqüências que a agricultura brasileira pode sofrer caso o cultivo comercial de transgênicos seja liberado. "As multinacionais poderão usar de lobbies pela Organização Mundial do Comércio [OMC] ou até da Área para Livre Comércio das Américas [Alca]", adverte. Por essas instâncias, poderia acontecer como nos Estados Unidos em que o produtor está amarrado às empresas multinacionais.

Produtor acusa Monsanto de 'perseguição'

Nelson, que produz soja em sistema familiar no estado de Dakota do Norte nos EUA, conta que depois que deixou de tentar usar a soja transgênica nos anos de 1998 e 1999 foi processado pela multinacional Monsanto, que fabrica a soja Roundup ready, a mais vendida em todo o mundo, sob a acusação de continuar a usar sementes modificadas. Se fosse condenado, o produtor teria que pagar uma indenização milionária à multinacional. Para se defender, Rodney Nelson juntou provas de que a Monsanto havia feito uma investigação criminosa em sua propriedade e também entrou na justiça. "Essa é a estratégia que a empresa utiliza para ameaçar os produtores", analisa.

De acordo com o produtor, técnicos da Monsanto fiscalizam as fazendas produtoras de soja transgênica sem o acompanhamento do proprietário ou responsável pelas lavouras, o que tornaria fácil a acusação de uso indevido da tecnologia. "Eu conversei com diversos produtores da região norte dos Estados Unidos e todos contam que acontece a mesma coisa", ataca.

Nos Estados Unidos, a legislação prevê que o agricultor que compra soja transgênica não pode guardá-la para futuras safras. Ou seja, todo o estoque de sementes deve ser utilizado na safra atual, podendo ser multado ou processado pela empresa detentora da tecnologia. No caso de Rodney Nelson, a Monsanto o acusou de ele ter utilizado sementes para a safra subseqüente que ele havia comprado.

Ainda assim, o produtor americano teme ter que voltar a tentar cultivar soja transgênica, mesmo o custo da semente ter subido cerca de seis vezes no mercado americano e da baixa produtividade. "Nos Estados Unidos, atualmente, não existe nenhuma empresa investindo em melhoramento de soja convencional. Em poucos anos, para assegurar a competitividade de minha produção terei que optar pela soja geneticamente alterada", finaliza.

Seminário em Brasília

Rodney Nelson e Dennis Kitch estão no Brasil para participar do seminário "O risco dos transgênicos - propostas da sociedade", que acontece entre os dias 18 e 20 deste mês em Brasília. A Campanha Por Um Brasil Livre de Transgênicos aproveitou a oportunidade de sua vinda ao país e agendou reuniões com os governadores e produtores rurais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para que o americano pudesse contar sua experiência.

O seminário deverá reunir cerca de 100 representantes de organizações de agricultores familiares, organizações ambientalistas e entidades de defesa dos consumidores para formular propostas para o governo visando enfrentar a questão da comercialização da soja contaminada por transgênicos no Rio Grande do Sul. Entre os convidados nacionais estão Flávio Gandara, da ESALQ-USP, que falará sobre o risco dos transgênicos para a agricultura, e Fátima Oliveira da UFMG e Sec. Executiva da Rede Feminista de Saúde, falando sobre implicações para a saúde.

O Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento [Formad] é uma articulação de 33 entidades que atuam permanentemente no acompanhamento de políticas públicas de desenvolvimento de Mato Grosso.

A Campanha 'Por um Brasil livre de transgênicos' é composta pelas Organizações Não-governamentais AS-PTA, Action aid Brasil, Esplar, Inesc, Greenpeace, CE-Ipê e Fase.

Site do Seminário - http://www.socid.org.br/transg/ameaca_transg.htm


Jornalista André Luís Alves - Estação Vida - www.estacaovida.org.br


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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