De: - EcoAgência de Notícias
Date: 13-mar-03
O Núcleo Amigos da Terra/Brasil - NAT - está se solidarizando com as ações contra a construção de grandes barragens neste dia 14 de março, quando pessoas e organizações do mundo todo se unirão pela preservação e celebração dos rios e pela proposição de um outro modelo energético, sustentável e possível.
O NAT é uma organização com base em Porto Alegre, RS, que luta, através das redes de ONGs e movimentos sociais com os quais atua, como a Rios Vivos, pela preservação da democracia e da diversidade, pelo direito das comunidades em participar das decisões sobre a utilização de seus recursos naturais e contra desenvolvimento destrutivo.
Para a entidade, a construção de barragens não atinge os objetivos previstos: os custos ultrapassam as previsões, os benefícios são menores que os anunciados, sem falar que as populações locais dificilmente são ouvidas ou têm seus direitos plenamente atendidos.
No Brasil, mais de 1 milhão de pessoas já foram deslocadas de seus território em função da construção de barragens, lembra nota da entidade sobre o dia de amanhã. "No mundo todo o problema se repete - a barragem chinesa 3 Gargantas, cujo reservatório gigantesco começa a ser formado este ano, deslocará em torno de 2 milhões de pessoas".
Além de afetar a vida e destruir a cultura destes povos, o impacto das barragens sobre a biodiversidade, a pesca e a qualidade das águas é inestimável. Para se ter uma idéia, o reservatório do lago da barragem de Tucuruí provocou a inundação de 2.875 Km² da Floresta Amazônica e a liberação de milhões de toneladas de gases de efeito estufa para a atmosfera.
A energia hidrelétrica não é limpa! No Brasil, os problemas relacionados à construção de grandes represas são gravíssimos, uma vez que quase 2/3 de todo o potencial hidrelétrico ainda aproveitável no país está localizado na região amazônica.
A crescente conscientização e ampliação do movimento mundial pelos rios, pela água e pela vida já tem o que comemorar, informa Lúcia Ortiz, do NAT. Segundo a Rede Internacional pelos Rios (http://www.irn.org), do qual participa, em 2002, 63 barragens foram agendadas para serem removidas dos rios norte-americanos, apesar da oposição do governo Bush.
Assim, remanescentes florestais serão protegidos, o habitat de diversas espécies de peixes será restaurado e a população vai ter acesso a outras áreas naturais, comemora. Pela primeira vez, afirma, uma barragem em operação no Japão foi escolhida para ser removida - "há muito tempo, cidadãos japoneses se queixam que os rios da nação estão demasiadamente barrados, e esta é a primeira rachadura na política habitual de cobrir os rios com concreto".
Instituições internacionais finalmente estão reconhecendo esta luta que a sociedade civil vem travando há anos. Esperamos o mesmo dos nossos governantes. O Brasil defendeu a proposta de incremento significativo (de 10%) de participação das novas fontes de energia renovável na matriz energética mundial, as quais não incluem as grandes barragens.
Apesar de estar longe de alcançar esta meta nacional, o Brasil é detentor de um potencial infinito de produção de e energia através da luz do sol; de um potencial de geração de 143 mil MW (o dobro do parque instalado no país) através da energia dos ventos; pode gerar a curto prazo mais de 3 mil MW através da biomassa proveniente de resíduos agrícolas como o bagaço da cana e as cascas de arroz; e pode acrescentar ainda mais 6 mil MW de energia com programas de eficiência energética que reduzam as enormes perdas que ocorrem no Brasil desde os sistemas de geração até a distribuição de energia aos consumidores finais.
Elisangela Soldatelli Paim - Jornalista (Reg. Prof. 9662)