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NACIONAL - Identificadas mais de 50 novas espécies no litoral paulista

De: - EcoAgência de Notícias
Date: 26-fev-03

Pelo menos 52 novas espécies de moluscos, crustáceos e minhocas marinhas, identificados no litoral norte de São Paulo, serão apresentadas em breve à comunidade científica do mundo inteiro. Pesquisadores coordenados pela bióloga Cecília Zacagnini Amaral, da Unicamp (Universidade de Campinas/SP), trabalham na descrição das espécies. O material será publicado em revistas especializadas internacionais. O trabalho faz parte do projeto temático Biota, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que pretende mapear a biodiversidade na costa paulista. Além da Unicamp, o estudo tem participação da USP e Unesp.

Orçado em R$ 2,5 milhões, o levantamento começou em janeiro de 2001, concentrando-se nos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilha Bela. Até dezembro, foram recolhidas várias amostras e já identificadas 535 espécies. Os animais estudados são todos bentos marinhos – animais que vivem junto a areia ou rocha, na praia ou no fundo do mar. Até o momento, 40% das espécies já foram identificadas, entre elas, 52 inéditas. "Como ainda falta analisar boa parte do material, é possível que apareçam outras espécies desconhecidas", diz a professora Cecília.

Entre as espécies inéditas, 40 pertencem à meiofauna, animais de tamanho muito próximos a um grão de areia que só podem ser identificados com auxílio de equipamento óptico. Outras 12 são representantes da macrofauna, com mais de meio milímetro de diâmetro. Além das novas espécies, também foi possível identificar outros gêneros, o que é considerado ainda mais raro. "Um gênero pode agrupar várias espécies", explica a professora.

Alguns dos novos exemplares surpreenderam os pesquisadores. É o caso da Diopatra, verme do mesmo grupo das minhocas que pode chegar a 15 cm de comprimento por oito milímetros de largura. Identificado há pelo menos 200 anos, até agora todos pensavam que só havia uma espécie do animal, a Diopratra cuprea. Ao examinar o material coletado, porém, os pesquisadores se depararam com quatro outras espécies do gênero Diopatra, até então desconhecidas para a costa brasileira.

"Imaginava-se que só havia a Diopatra cuprea porque as diferenças em relação às novas espécies são muito pequenas", explica Cecília. "Mas conseguimos descrever diferenças morfológicas entre uma espécie e outra, principalmente com base na anatomia externa", completa. Os pesquisadores ainda não definiram os nomes que darão às espécies inéditas. "Geralmente, o nome é dado em função de alguma característica do animal ou então é uma homenagem a alguma pessoa", conta Cecília.

Outra novidade é uma serpente-do-mar semelhante à estrela-do-mar. Pertencente ao gênero Ophiomisidium, o animal habita o fundo do oceano, não tem mais do que 10 milímetros de diâmetro, incluindo o disco central e os braços, que dão ao animal a aparência de uma estrela marinha. "A diferença entre esta e a serpente-do-mar é que o disco central é mais delimitado e os braços, que permitem a locomoção, lembram os movimentos de uma serpente".

Apesar de desconhecidas, as novas espécies sempre estiveram muito próximas dos seres humanos. A Diopatra cuprea, tanto quanto as novas espécies do gênero descobertas, ocorrem praticamente em todo o litoral. O animal, que é a versão marinha da minhoca, gosta de cavar túneis verticais na região mais úmida das praias, onde as ondas do mar quebram. Com certeza, quase todas os freqüentadores do litoral já se depararam ou pisaram numa Diopatra sem perceber", diz a pesquisadora.

FUNÇÃO NATURAL - Mesmo com aparência pouco convidativa, as minhocas marinhas do gênero Diopatra, segundo Cecília, são inofensivas. "Na verdade elas são extremamente úteis porque atuam como faxineiras das praias, alimentando-se de restos de comida jogados pelos banhistas", explica. O mesmo ocorre em relação às outras espécies catalogadas. "Nenhum dos animais encontrados por nosso grupo oferece riscos à saúde humana", informa a professora.

Embora o principal objetivo do projeto seja conhecer a biodiversidade do litoral, a pesquisa também gera resultados importantes do ponto de vista econômico. Cecília destaca que a Diapatra cuprea e as outras espécies do gênero servem de alimento para peixes de importância comercial. "Cerca de 80% da alimentação de peixes é composta por minhocas marinhas", revela.

Outra meta é verificar os desequilíbrios ecológicos que podem ocorrer com o a destruição da fauna bentônica. "Estes animais fazem parte de um ecossistema caracterizado por uma megadiversidade, e qualquer interferência negativa pode trazer resultados desastrosos ao meio ambiente", explica. A professora conta que até agora cerca de 60 pessoas foram envolvidas no levantamento, a maior parte alunos de graduação que ajudaram na fase da coleta. Agora, na segunda fase, participam alunos de pós-graduação e especialistas na identificação de espécies.


© EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e Pangea com informações da Agência Brasil e do Jornal da Unicamp


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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