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LOCAL - Cooperativa de catadores promove preservação e educação ambiental

De: - EcoAgência de Notícias
Date: 17-fev-03

As catadoras Mara Saraiva e Lisiane Mondelo - consciência ambiental na triagem do lixo / Fotos de Joseani M. Antunes

 

Os depósitos de resíduos, conhecidos popularmente como lixões, perdem a imagem pejorativa em busca de uma nova aparência, mais adequada à demanda social pela preservação do meio ambiente
 

A produção de lixo em Porto Alegre chega a 1,6 mil tonelada por dia. Desse volume de resíduos, 50 toneladas são recolhidas diariamente pela coleta seletiva do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e encaminhadas às unidades de triagem instaladas na Capital. A maior em funcionamento é a unidade da Cavalhada, formada a partir de uma associação de catadores de materiais recicláveis.

A Associação dos Recicladores do Loteamento Cavalhada foi formada em 1996, quando a administração municipal construiu um conjunto habitacional popular para moradores de áreas de risco, formando a Vila Cavalhada. Como a maioria dos moradores era de “papeleiros”, foi construído um galpão, adaptado ao trabalho de triagem dos resíduos recolhidos pela coleta seletiva. Sob gestão dos próprios associados, o grupo buscou doações de prensas, de picadores de papel e de balanças. Hoje, a Associação conta com 46 membros, priorizando um integrante por família.

As catadoras (foto) Lisiane Mondelo, 20 anos, e Mara Roselaine Saraiva, 24, viviam na Vila Cai-Cai, mantendo os filhos com o dinheiro que obtinham com as latas que recolhiam nas ruas de Porto Alegre. Com o trabalho na Associação, as catadoras têm conseguido uma renda mensal de dois salários mínimos, quase R$ 500,00.

A oportunidade na cooperativa formou uma lista de espera de 60 pessoas, todas moradoras da Cavalhada. “Como a situação está difícil, fazemos um rodízio, deixando que cada pessoa da fila trabalhe um mês na unidade para não passar fome”, conta Lisiane, explicando que a solidariedade também faz parte do sucesso da Associação.

O filé mignon do lixo

Na unidade da Cavalhada, são separados materiais como papel, plástico, vidro, alumínio e cobre, destinados a empresas de todo o Brasil, principalmente Rio Grande do Sul e São Paulo, onde retornam ao sistema de produção. Empresas como a Gerdau também são compradoras de materiais, como sucata de ferro.

Todo resíduo tem seu valor, mas os catadores afirmam que o filé mignon da coleta são as latas de alumínio, comercializadas entre R$ 1,80 e R$ 2,00 o quilo (quase 80 latas). Contudo, avaliam que é muito difícil este tipo de material chegar à unidade de triagem, já que são muitos os catadores nas ruas de todo o país.

Consciência ambiental

A escolha do nome Associação dos Recicladores da Cavalhada foi uma escolha dos próprios integrantes do grupo, tendo em vista o grande número de visitas que o local recebe. “Não gostávamos quando as crianças das escolas nos chamavam de lixeiros. Temos um emprego digno, como qualquer outro”, declara a catadora Mara Saraiva.

Além do resgate da auto-estima, o trabalho também serviu para estimular os catadores a assumir um papel de educadores ambientais junto aos visitantes. Durante as excursões ao local, os catadores abordam questões de cidadania, de qualidade de vida, de poluição e de preservação do meio ambiente. O funcionamento das prensas é acompanhado de orientações sobre o tipo de resíduos que podem ser reciclados e o destino correto do lixo. “Eu sei a importância que tem nosso trabalho. É simples, mas mostra a prática do trabalho e faz a pessoa que passa por aqui pensar antes de sair jogando lixo em qualquer lugar”, finaliza Lisiane.

O lixão se transforma em Aterro Sanitário

Numa perspectiva ecologista, o “lixão” deixa de servir apenas como depósito de resíduos a céu aberto para se transformar num aterro sanitário, onde os resíduos são depositados e tratados de maneira planejada para evitar danos ao meio ambiente.

Em Porto Alegre, o rejeito e o resíduo não separado vão para aterros em Gravataí e em Minas do Leão, já que o aterro do Lami (foto ao lado), principal destino na Capital, deixou de ser utilizado em dezembro por atingir sua capacidade máxima. A área utilizada no Lami chega a oito hectares, onde o antigo proprietário realizava extração de saibro e acabou formando uma cratera com 45 metros de profundidade (semelhante a um prédio de 15 andares).

A área foi impermeabilizada com argila, coberta por uma manta plástica e por uma camada de brita para evitar que o solo fosse contaminado. Durante cinco anos, o aterro recebeu cerca de 22 toneladas de resíduos (sólidos e orgânicos) produzidos diariamente na cidade. O chorume (líquido escuro resultante da decomposição do lixo) é canalizado para uma lagoa e depois para uma estação de tratamento. O volume de resíduos foi pesado regularmente, possibilitando determinar quanto estava sendo depositado no aterro, de modo a não exceder sua capacidade de contenção.

Com a desativação do aterro, o DMLU iniciou a recuperação superficial da área, destinada ao reflorestamento. O processo leva aproximadamente 15 anos para ser concluído e determina a formação de uma área verde intocável, já que o solo falso não sustenta construções.

Neste momento, o departamento está em fase de licitação para contratação de empresa que deverá descobrir um novo local e fazer o respectivo Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para a construção de novo Aterro Sanitário em Porto Alegre.

© EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e Pangea com material gentilmente cedido pela jornalista Joseani M. Antunes (josiantu@mail.emater.tche.br), do O Informativo, de Lajeado


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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