De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
Date: 26-jan-03
Time: 10:44:19
Passados mais de três meses do encerramento da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, é cada vez mais evidente que os parcos acordos definidos no encontro global não devem sair do papel. O sombreamento de toda e qualquer questão relativa à sustentabilidade e à paz pelos valores de mercado e por nova ameaça de guerra põe novamente em xeque o destino da comunidade mundial.
No entanto, o Fórum Social Mundial é novamente o palco para que sejam resgatados antigos valores, como a solidariedade, a paz e a preservação ambiental, tão esquecidos em tempos de economia globalizada Reunidos na cidade sul-africana de Joanesburgo, frente aos parcos resultados da Rio+10, movimentos sociais brasileiros já antecipavam que a terceira edição do Fórum Social seria uma nova oportunidade para que a temática ambiental fosse tratada com a devida importância.
Seguindo nessa direção, se iniciou na tarde desse sábado, 25 de janeiro, o seminário “Rio+10 – Um Mundo Sustentável é Possível”, organizado pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, Assembléia Permanente das Entidades em Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Apedema/RS), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Projeto Brasil Sustentável e Democrático/Cone Sul Sustentável, Rede Brasileira de Justiça Ambiental e Instituto Vitae Civilis. O Seminário segue os mesmos moldes do Fórum Preparatório à Rio+10, que também s realizou em Porto Alegre, em 2002, antecedendo à Cúpula de Joanesburgo.
Segundo o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e presidente da Abema (Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente), Claudio Langone, que integrou a mesa de abertura, com o novo governo o Brasil assumirá nova postura no cenário mundial. “O país vai falar alto e forte buscando a definição de uma nova agenda internacional, pois não podemos combater a pobreza sem combater a riqueza, não precisamos de esmolas, mas sim de recursos daqueles que têm mais responsabilidade pela crise global para que os países ditos subdesenvolvidos tracem outro caminho de desenvolvimento, e precisamos de mecanismos globais de redistribuição de renda e de uma mudança nos padrões de produção e consumo”, salientou.
Para Rubens Born, do Instituto Vitae Civilis, a sustentabilidade é uma “obra permanente”, e só será alcançada com a recuperação de valores como a diversidade de idéias e experiências da sociedade civil, por exemplo. “O Fórum Social Mundial é um pequeno exemplo da quantidade de iniciativas globais em direção à sustentabilidade”, disse. Segundo ele, o atual modelo de globalização sobrevive pela estágio de fragmentação das iniciativas e pela geração de conflitos sociais.
Vinod Raina, do Jubileu Sul, da índia, reclamou da falta de mulheres na mesa de abertura. Elas que, segundo ele, “são grandes vítimas do modelo de esclusão global”. Além disso, o indiano foi cético ao lembrar os dois últimos encontros globais sobre meio ambiente. Na Rio92 o objetivo seria descobrir “como podemos consumir mais sem pagar muito”, e, na Rio+10, seria “como conseguir ainda mais e os outros que vão para o inferno”, comentou. Para ele, uma forte evidência de que o neoliberalismo ainda domina o mundo, passados 10 anos da Cúpula do Rio, é a tentativa de transformar a água numa commoditie (item com preços ajustados por bolsas internacionais). No entanto, o indiano acredita que a sustentabilidade deva se referir “ao bom relacionamento do Homem com o meio ambiente, e não ao simples uso dos recursos naturais”.
Para Jean Pierre Leroy, do Projeto Brasil Sustentável e Democrático, enfrentamos um problema de conceito, já que o termo desenvolvimento traz atrelado a si velhas estruturas e velhas formas de relacionamento. “Vivemos entre dois mundos, Porto Alegre e Davos, mas esses mundos se misturam em nossas vidas, em nosso trabalho, em nossas lutas”, disse. De acordo ele, "esse fato torna ainda mais complexas as formas de atuação e exige ainda mais trabalho por parte de todos aqueles engajadas na construção de um novo e sustentável mundo".
Aldem Bourscheit - aldem@ecoagencia.com.br - © EcoAgência de Notícias, janeiro 2003 - http://www.ecoagencia.com.br.
Membro do NEJ/RS e Assessor de Imprensa da Abema