FSM - WWF encena
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De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias Data: 26-jan-03 Hora: 08:05:56 |
Atores encenaram a situação
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De acordo com Samuel Barreto, que coordena o Programa Água para a Vida – Conservação e Gestão da Água Doce, do WWF, a Lei Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97), embora seja celebrada como uma das mais avançadas do mundo, não resultou em uma política nacional à altura do desafio que a situação atual dos recursos hídricos no país apresenta. “Precisamos implementar a lei, que é um marco e traz instrumentos inovadores e modernos que podem reverter o processo de degradação das águas observado no Brasil”, afirma.
O principal problema herdado no âmbito das políticas federais para as águas, segundo os ambientalistas, é a preponderância da visão da água como mercadoria, o que acaba por marginalizar os múltiplos outros usos possíveis do recurso. Esse é um dos aspectos que se pretende corrigir no processo de formulação da política nacional, que está em curso no Conselho Nacional dos Recursos Hídricos.
Samuel Barreto defende que, além de uma efetiva participação da sociedade civil organizada no processo, a política que se está construindo deve ser capaz de propor ações preventivas para áreas de avanço da fronteira, de modo a se antecipar aos inevitáveis conflitos sociais pelo uso da água. “Não adianta organizar os comitês de bacia [um dos principais instrumentos de gestão de um rio trazidos pela lei, que assegura a participação de todos os setores organizados envolvidos no uso de suas águas] onde o conflito já está instalado. A resolução fica mais complexa e os investimentos para a recuperação dos rios é muito maior”, afirma Barreto. Cita, como exemplo, a situação do rio Tietê, que corta o interior do estado de São Paulo. “No Tietê, já foram investidos quase US$ 2 bilhões e o rio continua em situação complicada”, diz.
Ao lado de ações preventivas, a nova política, de acordo com a proposta do WWF, deve adotar medidas para a recuperação das bacias degradadas. O combate ao desperdício, a revitalização de matas ciliares, o fortalecimento da participação da sociedade civil e o aprimoramento dos mecanismos de gestão das bacias, incluindo investimentos de capacitação para qualificar a participação da sociedade, são apontadas pela entidade como ações fundamentais para enfrentar a “exclusão hídrica” no Brasil.
Um dos aspectos interessantes trazidos pelo programa do WWF é a explicitação da relação entre degradação da água e pobreza. O mal uso dos recursos hídricos, seja pelo desperdício seja pela contaminação, agrava a situação de pobreza em vários regiões do país, estando diretamente relacionada com a proliferação de um grande número de doenças. Não se trata, portanto, “apenas” de um problema ambiental, mas de saúde pública também. Mesmo na Amazônia – que, embora detenha 70% da água doce do país, não tem sequer um comitê de bacia instalado – vários rios urbanos apresentam alto nível de deterioração.
Os documentos distribuídos pela entidade chamam a atenção para o fato de que a generosa condição hídrica do Brasil deveria inspirar políticas que tomem as águas como uma prioridade, antecipando-se ao aprofundamento da degradação e, portanto, da “exclusão hídrica”.
Presente ao ato, o secretário Nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra, afirmou à Ecoagência que assume com a demanda de trazer para a Secretaria o papel de formuladora de políticas para o setor. “Vamos corrigir alguns desvios da administração anterior, que tirou do Ministério esta função mais nobre, que é a formulação da política [nacional de recursos hídricos]”.
Segundo Senra, a demanda relacionada à formulação de uma política nacional de recursos hídricos será feita “não apenas pelo Estado, mas com a participação do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos, com os comitês de bacias, as ONGs e outros setores da sociedade”.
Adiantando algumas premissas que devem integrar esta política, João Bosco Senra informou que o Ministério do Meio Ambiente planeja criar um programa de alcance nacional “que assegure a cada brasileiro o acesso a 40 litros de água por dia, conforme propõe a Agenda 21”. O semi-árido e as periferias dos grandes centros urbanos, áreas de crise crônica de água, serão prioridades nessa política, disse o Secretário.
Jornalista Marco Antonio Gonçalves - marcoantonio@ecoagencia.com.br