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FSM - Jornalistas debatem a destruição ambiental ao longo da história

De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
Data: 25-jan-03
Hora: 18:27:37

A destruição do meio ambiente no Brasil, desde a sua descoberta, tem sido feita de maneira empírica e sistemática, o que gerou um padrão baseado no descaso em relação aos recursos naturais do país. A conclusão é dos jornalistas José Augusto Pádua, autor do livro “Um Sopro de Destruição – Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786-1888)”, e Eduardo Bueno, o Peninha, cujas obras mais recentes são “Brasil: Uma História – A Incrível Saga de um País” e “Pau Brasil”.

Eles participaram, neste sábado pela manhã (25/1), da oficina Visão Ecológica da História do Brasil: Repensar o Passado para Transformar o Futuro, promovida na PUC-RS pelo Núcleo de Ecojornalistas do RS. De acordo com Pádua, a exploração do meio ambiente no Brasil colonial escravista tinha como principais pressupostos o mito de que os recursos naturais eram inesgotáveis, o desprezo dos colonizadores pela natureza tropical, a mentalidade imediatista e o parasitismo predatório. “Valia a lei do menor esforço na economia brasileira. A cultura imediatista colonial não tinha qualquer cuidado na utilização dos recursos naturais.”

Os livros de Bueno têm o foco no Brasil do século XVI. Ele destaca que o momento do primeiro contato entre os colonizadores europeus e os indígenas foi de choque entre culturas completamente diversas. Peninha observa que esta aproximação foi marcada por dois atos: no primeiro, os índios receberam um chapéu dos portugueses e presentearam-lhes com um cocar; em seguida, os colonizadores derrubaram uma árvore para, em lugar dela, fincar uma grande cruz. “O corte da árvore com um machado de metal fez com que, em alguns segundos, os nativos passassem da idade da pedra para a do ferro.”

Contradição

Pádua ressalta que a pesquisa entre diversos autores da época colonial brasileira demonstrou que a discussão sobre a necessidade de preservar o meio ambiente não é recente nem é uma moda passageira. “Alguns autores já utilizavam até mesmo conceitos tratados hoje em segurança alimentar, como o da garantia de que o cuidado com a saúde tivesse primazia sobre qualquer outro aspecto na produção e consumo de alimentos.” O escritor lembra que, ao realizar sua pesquisa, encontrou em vários livros críticas às atividades predatórias e à destruição ambiental no Brasil. “Numa época em que não existiam ambientalistas, isto é muito significativo.”

O autor de “Um Sopro de Destruição” entende que, desde o seu descobrimento, o Brasil vive uma contradição entre a exaltação que se faz à abundância de riquezas naturais do país e a destruição impiedosa delas que sempre foi praticada. “Apesar de seu imenso território, o Brasil tem uma das mais baixas produtividades mundiais em suas áreas rurais. Poderíamos produzir muito mais nelas, destruindo menos a natureza.” No período colonial, diz Pádua, os europeus queimavam florestas e vegetação por saberem que ainda dispunham de uma quantidade muito grande de áreas nativas para serem exploradas. A mata atlântica, lembra, parecia amedrontadora aos colonizadores, que a queimavam a pretexto de “limpar” o terreno. Com a devastação das riquezas naturais nativas, eles começaram, então, a introduzir espécies exóticas no país. “A mata atlântica brasileira já foi destruída em 93% de sua área total, enquanto 50% do cerrado foram dizimados em 40 anos.”

Pau-Brasil

De acordo com Eduardo Bueno, estudos apontam indícios de que, muito antes dos nativos que estavam no Brasil na época em que os europeus aportaram no território, egípcios e fenícios já haviam chegado à América, com acúmulo de experiências importantes em atividades ecológicas que datavam de cerca de 40 mil anos. Evidências indicam também, segundo o escritor, que estes indígenas que habitaram a América cerca de 20 mil anos antes do período colonial tenham sido responsáveis pela destruição de parte dos recursos naturais brasileiros.

Os colonizadores europeus, por sua vez, lembra Peninha, acreditavam estar próximos de um território muito parecido com o paraíso, mas achavam que o Brasil não possuía riqueza nenhuma para ser explorada. A Coroa portuguesa, que detinha o monopólio do comércio do pau-brasil, decide, então, terceirizar a sua exploração para arrecadar mais recursos, propiciando um grande fluxo de contrabando do produto. Os colonizadores aprenderam com os nativos, explica o jornalista, qual a época certa da lua para abater o pau-brasil. “Como só os portugueses e espanhóis podiam navegar pelo Oceano Atlântico, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, outras nações européias que mantinham o contrabando do produto estabeleceram relações mais civilizadas com os indígenas, pois não estavam interessados em colonizar o país.”

“É preciso reconstruir a relação com a natureza, mudar o modelo herdado do Brasil colonial”, diz Pádua. Para ele, não basta mais conservar e preservar as riquezas naturais do país, mas é necessário também haver uma ecologia de restauração do que já foi destruído. Para Eduardo Bueno, os colonizadores portugueses mostraram uma enorme falta de visão administrativa em relação ao Brasil, caindo no aventureirismo. “As riquezas naturais brasileiras foram exploradas de maneira absolutamente empírica, sem nenhum cuidado em preservar. Até mesmo animais e plantas de outras regiões do planeta foram trazidos ao país pelos europeus para substituírem os animais e vegetação nativos.”

Notícia relacionada: http://www.agirazul.com.br/fsm4/_fsm/0000002d.htm

Carlos Scomazzon - carlos@ecoagencia.com.br - © EcoAgência de Notícias, janeiro 2003 - http://www.ecoagencia.com.br.


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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