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FSM - Caso Percy Schmeiser:
Monsanto é acusada de fazer
chantagem e terror contra
agricultores canadenses

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EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
25-jan-03

Percy Schmeiser falando no 3° FSM
Foto de Carlos Stein - mais fotos sobre o evento em
http://www.papaluz.com.br/fsm2003/forum06/index.htm

Percy Schmeiser não parece uma pessoa perigosa, e muito menos capaz de assustar as grandes corporações globalizadas, com seu rosto bem barbeado e óculos que lhe dão um certo ar de acadêmico. Mas ele é um agricultor de 72 anos, envolvido, desde 1998, na batalha de sua vida, contra uma das maiores predadoras da biodiversidade no planeta, chamada Monsanto. Nesta sexta-feira ele apresentou seu testemunho a centenas de participantes do Fórum Social Mundial 2003, no Centro de Eventos da PUC.

Schmeiser planta trigo, canola e outras oleaginosas desde 1947, na sua fazenda no Oeste do Canadá. Durante 25 anos ele foi também membro do Parlamento canadense, ao mesmo tempo em que melhorava suas sementes, plantando os melhores exemplares de safras anteriores. Ele jamais comprou uma só semente da multinacinal Monsanto, embora hoje mais de 320 hectares de suas terras estejam contaminados pela canola Roundup Ready da Monsanto, resistente a herbicidas e geneticamente modificada. Além disso, em agosto de 1998, Schmeiser foi processado pela Monsanto, sob a alegação de que teria plantado canola da Monsanto, sem pagar a taxa de 37 dólares por hectare que a multinacional exige dos fazendeiros pelo” privilégio” de destruir seu próprio futuro.

Ao contrário de centenas de agricultures norte-americanos que se deixaram extorquir pela multinacional, Schmeiser reagiu, alegando que “policiais” da Monsanto invadiram suas terras e que as sementes geneticamente modificadas contaminaram sua lavoura, na passagem de caminhões de sementes transgênicas por sua propriedade. “Eu nunca joguei uma só semente da Monsanto em minha terra. Queria saber onde terminava o direito da Monsanto e onde começava o meu?"

Em junho de 2000 o agricultor teve a resposta. Um juiz canadense determinou que, se qualquer porcentagem de semente transgênica for encontrada numa lavoura, esta torna-se propriedade da Monsanto. O direito dos fazendeiros canadenses foram engolidos pelos direitos da multinacional, mas aguarda-se para março ou abril próximos o resultado de um recurso à Suprema Corte, que poderá corrigir, em parte, tal despropósito.

Schmeiser acusou a Monsanto de utilizar o terror para atingir seus propósitos, em primeiro lugar, preparando contratos draconianos. Todos os direitos são retirados dos agricultores, que ficam proibidos de plantar suas próprias sementes e se obrigam a usar apenas produtos da multinacional, pagando à Monsanto até 45 dólares por hectare plantado. São, também, terminantemente proibidos, por contrato, a falar à imprensa sobre suas relações com a empresa. Segundo Schmeiser, a Monsanto tem sua própria força policial, com direito total sobre as plantações durante três anos após a assinatura dos contratos, dos que forem firmados por um ano. “Se algo estiver errado na sua lavoura, você não pode processar a Monsanto. Você tem as sementes, eles dizem. Confesse, confesse.” A tática do terror funciona contra as famílias de fazendeiros apavorados e dissemina desconfiança e suspeita entre vizinhos, diz ele, mostrando cartas em que a Monsanto cobra até 100 mil dólares de agricultores acusados de plantar sementes ilegalmente, para não processá-los.

Na maioria dos casos, os transgênicos da Monsanto contaminam outras lavouras. Mas, se uma família acusada de possuir plantar transgênicas não é encontrada para assinar o recibo da carta de extorsão, a Monsanto envia helicópteros para espalhar seus venenos sobre a lavoura. Quando as plantas morrem, sabe-se que não são da multinacional.

Os super venenos da Monsanto matam todas as plantas, menos aquelas modificadas geneticamente em seus laboratórios. No entanto, esta prática desenvolveu a resistência de muitas ervas “daninhas” e criou um mundo de “super pragas”, devastadoras para a agricultura limpa e natural. Os canadenses perderam biodiversidade e tiveram praticamente todo o seu território contaminado em apenas quatro anos. O custo de importação cresceu, e eles não conseguem mais vender sua produção, salvo para o México e os Estados Unidos. A agricultura orgânica foi devastada, e pela ação dos ventos, dos pássaros e da polinização cruzada outras plantas se contaminaram. “Não existe coexistência possível com os transgênicos”, afirmou Schmeiser, “eles destroem tudo. Nós, no Canadá, não temos mais escolha, mas não deixem que isso aconteça a vocês, no Brasil”, aconselhou. “Nunca assine um contrato que impeça o uso de suas próprias sementes, pois você se tornará um escravo”.

A mulher de Schmeiser, que não o acompanhou nesta viagem, tem 75 anos, e apóia ativamente a luta do marido. “Temos 5 filhos e 14 netos, e queremos deixar um mundo para eles”, concluiu. “Não sei quantos anos de vida teremos, mas iremos até o fim lutando contra a Monsanto”. Depois de prolongados aplausos, o agricultor deu o endereço de sua página na internet, www.percyschmeiser.com, garantindo que lá estão todos os detalhes desta verdadeira história de terror.

 

Texto do Jornalista José Fonseca - josefonseca@ecoagencia.com.br para a EcoAgência de Notícias - www.ecoagencia.com.br 


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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