FSM - Iniciou o Seminário que trata da radiação eletromagnética: "a maior fonte de poluição do planeta" |
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Sem empresas: evento contou
com entidades associativas, como o NEJ. |
De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
Data: 24-jan-03
Hora: 23:30:47
Para Libby Kelley, diretora-executiva da ONG Conselho sobre os Impactos das Tecnologias Sem-Fio, com sede na Califórnia, Estados Unidos, os limites atuais adotados em quase todo o globo como padrões para emissão e exposição a radiações eletromagnéticas, tanto para a população comum quanto para trabalhadores das mais diversas áreas, não oferecem proteção à saúde e ao meio ambiente. E, segundo ela, esse tipo de radiação é hoje a maior fonte poluidora do planeta, ainda maior do que a causadora do aquecimento global.
Kelley foi uma das palestrantes do seminário “Campos e Radiações Eletromagnéticas Não-Ionizantes: Impactos de Novas Tecnologias Sobre a Saúde e o Meio Ambiente", que se iniciou na manhã desta sexta-feira, no Plenário da Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre. Participaram representantes do poder público, de entidades do meio acadêmico e da sociedade civil, para conhecerem e debaterem os efeitos das radiações eletromagnéticas sobre a saúde e o meio ambiente.
O seminário é promovido pela Associação Brasileira de Defesa dos Moradores e Usuários Intranqüilos com Equipamentos de Telecomunicações Celular (Abradecel), Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação (Fittel), Sindicato dos Telefônicos do Rio Grande do Sul (Sinttel/RS). O Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ/RS) também é promotor do evento e integrou a mesa de abertura, deixando claro seu apoio à popularização de temas de interesse público que não encontram o devido tratamento pelos meios tradicionais de comunicação.
Participaram ainda da série de palestras Francisco de Assis Tejo, Coordenador da Área de Microondas e Eletromagnetismo Aplicados do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (PB), e Álvaro Augusto Salles, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Ambos demonstraram, às dezenas de participantes, como as radiações eletromagnéticas se propagam e como agem sobre os tecidos vivos, com ênfase nas antenas receptoras/transmissoras e aparelhos celulares. De acordo com eles, a exposição momentânea ou prolongada à alguns tipos de radiação pode causar uma séria de problemas, pois a energia propagada pelas fontes emissoras penetra nos tecidos vivos, alterando suas características naturais de forma momentânea ou permanente. “As radiações eletromagnéticas agem como uma toxina, causando prejuízos aos organismos vivos”, completou Kelley.
EFEITOS – Em novembro de 2002, o NEJ/RS promoveu debate público sobre as Estações de Rádio-Base, as antenas receptoras/transmissoras usadas na telefonia celular. Na ocasião, além de Álvaro Salles, participou do evento Geila Radins Vieira, médica-auditora do Estado do RS e coordenadora do Serviço de Vigilância Sanitária do Serviço de Saúde de Porto Alegre. A profissional, que também integra a programação do Seminário, apresentou pesquisas, para ela conclusivas, desenvolvidas principalmente no exterior, no âmbito da Organização Internacional do Trabalho - OIT, quanto aos efeitos das radiações eletromagnéticas sobre a saúde.
Leucemia, queda de cabelo, câncer, problemas neurológicos, catarata, perda de memória, desatenção, falhas imunológicas e distúrbios hormonais seriam algumas das doenças provocadas pela exposição aguda ou crônica a níveis elevados de radiação. As crianças, pelo estágio de amadurecimento de seu organismo, seriam ainda mais suscetíveis aos efeitos dos campos eletromagnéticos. Algumas fontes de radiação são: aparelhos de radar, aparelhos celulares e antenas receptoras/transmissoras de telefonia celular, cabos de alta-tensão, fontes elétricas, fornos de microondas, aparelhos de raios-x, computadores, notebooks e telefones sem fio.
O Brasil tem hoje mais de 16 mil antenas receptoras/transmissoras de telefonia celular instaladas e em operação, e mais de 34 milhões de aparelhos celulares em circulação, suficientes para quase 20% da população, com ampla concentração nos centros urbanos. No planeta, esses números crescem vertiginosamente.
Segundo Kelley, há décadas grandes quantidades de estudos vêm sendo conduzidos sobre os efeitos das radiações eletromagnéticas sobre os seres vivos, “mas parece que até agora a questão científica não foi resolvida”. Conforme levantamento realizado pela norte-americana, 66% das pesquisas feitas com verbas das empresas de telefonia celular não apontam efeitos negativos para a exposição à radiação, enquanto que 77% dos testes feitos com verbas independentes chegam à conclusão de que os campos eletromagnéticos causam sim problemas à saúde e ao meio ambiente. “Onde fica o princípio da precaução? Sabendo o que sabemos, não podemos esperar mais”, ressaltou.
ABRADECEL – A Associação Brasileira de Defesa dos Moradores e Usuários Intranqüilos com Equipamentos de Telecomunicações Celular surgiu em 2001, quando seu coordenador-executivo, o paulista João Carlos Rodrigues Peres, tornou-se “vítima” de um evento envolvendo a telefonia celular. Residente em um prédio de apartamentos em uma das maiores metrópoles do planeta, foi apanhado certo dia com uma proposta do síndico para que fosse instalada uma Estação de Rádio-Base (antena receptora/transmissora de telefonia celular) sobre o prédio.
Peres, curioso com o novo aparelho e também com a legislação sobre condomínio, acabou fazendo algumas descobertas. Uma delas foi sobre as características e possíveis efeitos à saúde da exposição às radiações eletromagnéticas, e outra foi a de que a instalação de tal tipo de aparelho só poderia se efetivar mediante a aprovação de todos os moradores do prédio, o que não se concretizou. Mais a maior surpresa para Peres foi o “por fora” (propina) que o síndico de seu prédio receberia da empresa de telefonia com a instalação da antena sobre a residência de uma série pessoas.
“O que se vê é um oportunismo de mercado. O cidadão que precisa de dinheiro, por exemplo, aluga um terreno ou um espaço em seu próprio terreno para instalação desse tipo de antena”, revela.
CONAMA – A situação do tema radiações eletromagnéticas no CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), segundo o coordenador-executivo da Abradecel, não é das mais animadoras. “A pressão das operadoras de telefonia é muito forte, e a proposta de resolução criada por um Grupo de Trabalho específico para o Conselho atende basicamente aos interesses de mercado, das indústrias”, salienta Peres. “Esperamos que seja possível retomar o trabalho com esse Grupo de Trabalho, de forma mais equilibrada e defendendo a saúde pública”, disse.
Segundo o paulista, o Congresso Nacional votou na última gestão sete Projetos de Lei quanto ao controle das radiações eletromagnéticas. No fim de 2001, foi elaborado um Parecer Técnico conjunto pelas comissões envolvidas no assunto, que via na redução da potência irradiada e no afastamento das antenas entre si e das residências e outras instalações são fatores de segurança, de saúde pública. “Temos uma postura assumida pelo Congresso, mas que infelizmente ainda não foi votada pela falta de tempo. Esperamos que não seja preciso esperar mais quatro anos por isso”, ressaltou.
Quanto ao novo governo, Peres alfineta sobre o papel que será desempenhado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). “Essa não é uma agência reguladora e fiscalizadora do povo brasileiro, mas sim um cartel, órgão que faz advocacia administrativa para o lobbie empresarial. Deveria ter no mínimo a honestidade de colocar os cargos a serviço do novo governo”, reclama. No entanto, o paulista tem expectativa em relação ao novo governo, apostando em nomes como Dilma Roussef, ministra das Minas e Energia, e Marina Silva, ministra do Meio Ambiente.
O seminário “Campos e Radiações Eletromagnéticas Não-Ionizantes: Impactos de Novas Tecnologias Sobre a Saúde e o Meio Ambiente" segue até este sábado, 25 de janeiro, quando haverá espaço para painéis sobre o princípio da precaução, competência dos municípios sobre o tema, papel do Ministério Público, e também para a projeção do filme “Exposição Pública: DNA, Democracia e a Revolução Sem Fio”, produzido pelo CWTI (www.energyfields.org).
Suíça 4,2 W/m² (Porto Alegre) China 6,6 W/m² Rússia 10 W/m²
Itália 10 W/m² Nova Zelândia 50 W/m² Canadá 580 W/m² Estados Unidos 580 W/m²
Cellular Telephone Russian Roulette (A Roleta Russa do Telefone Celular), de Robert C. Kane, ex-engenheiro da Motorola, uma das maiores fabricantes mundiais de aparelhos celulares.
Jornalista Aldem Bourscheit - aldem@ecoagencia.com.br - © EcoAgência de
Notícias, janeiro 2003 -
http://www.ecoagencia.com.br. Membro do NEJ/RS e Assessor de Imprensa da
Abema