De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
Date: 24-jan-03
Time: 10:30:17
Quando mais de cem mil pessoas juntam-se para caminhar, muitas são as razões e assim se verifica que as verdades não são absolutas. Alguns caminham sensibilizados pela Paz, outros anseiam por mais voz e mais espaço para representação. Ainda têm os que desejam salvar as florestas, as minorias lingüísticas ou somente garantir o acesso à informação para todos. São tantos os aromas. E assim percebemos como a vida e a convivẽncia entre tantas outras vidas é algo tão frágil e delicado. Mais do que nunca a diplomacia torna-se necessária e a sensibilidade indispensável.
Na quinta-feira passada peguei um ônibus, na avenida Ipiranga, para chegar ao Mercado Público, de onde saía a Grande Marcha. Uma guria, que poderia se chamar Carolina, Marina, Andréia ou Luciana, entrou junto. Eu pude ficar e dirigir-me tranqüila para o evento. A menina teve que descer do ônibus. O motorista do mesmo disse que ela estava muito suja e que o seu mal cheiro provocava dor de cabeça nele. Roupa encardida, cheiro de quem não toma banho todos os dias e um olhar vago. Ela reclamou. Disse que precisava continuar viagem, mas o motorista não concordou e fez ela desembarcar. A guria que poderia ser Marisa, Maria Clara ou somente Luci desceu da condução e nada mais pude acompanhar.
O mais irônico é eu estar retornando da Europa agora, onde vivi um ano e meio, onde não se toma banho todos os dias e onde nunca vi alguém ser obrigado a deixar o transporte público por causa do próprio cheiro. Logo depois misturei-me à massa que se concentrava para a caminhada e vi pessoas com fome de mudança, ansiosas por uma mundo diferente. Algumas suavam tanto que o aroma não era nada agradável. Fiquei me perguntando se a menina de identidade desconhecida tinha consciência daquele movimento, pois de alguma maneira também lutavamos por ela. Talvez ela não soubesse nada.
Então pensei em mim e em todas aquelas outras pessoas, se nós tínhamos consciência do quê realmente necessitava mudança. Precisamos salvar ecossistemas, acabar com as injustiças, dizer Não à Alca, difundirmos idéias de paz e igualdade. Porém é urgente que sejamos mais práticos, mais ação, senão seremos obrigados a ficar de boca fechada quando uma Maria não cheirosa perguntar por que ela não pôde ficar no ônibus do Forum.
Patrícia Soares Viale - patricia@ecoagencia.com.br - EcoAgência de Notícias, janeiro 2003 - http://www.ecoagencia.com.br