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FSM - Rubens Harry Born:
"Governos e corporações têm que mudar radicalmente a postura ambiental"

De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
Data: 23-jan-03
Hora: 22:47:42

Entusiasmado com o aumento das discussões ambientais no Fórum Social Mundial, e otimista com o Governo Lula, o Coordenador Executivo do Vitae Civilis - Instituto para o Meio Ambiente, Desenvolvimento e Paz , Rubens Harry Born, participou hoje (23) da passeata que mobilizou dezenas de milhares de ativistas em Porto Alegre (RS). Acostumado a negociações e debates internacionais, Rubens é um dos mais preparados ambientalistas brasileiros.

Nesta entrevista à EcoAgência, concedida durante a gigantesca marcha de abertura do terceiro Fórum, “Rubinho” fala das novas articulações políticas dos ecologistas.

EcoAgência: Quais as principais questões que o movimento ambientalista está trazendo para o terceiro Fórum Social Mundial?

Rubens Harry Born: Este terceiro Fórum abriu espaço para o a discussão do desenvolvimento sustentável. A bola agora está com os ambientalistas, no sentido de corresponder a esta abertura de espaço, ocupar diferentes nichos do Fórum Social Mundial. E tentar, junto com outros grupos da sociedade civil, avançar não somente a discussão da sustentabilidade, mas a implementação de ações e políticas. Temos que usar este terceiro Fórum para fazer a temática do meio ambiente, da sustentabilidade, da eqüidade e da justiça social perpassar outros movimentos sociais.

EcoAgência: A partir deste terceiro Fórum é possível mostrar às grandes corporações transnacionais que o movimento ambientalista que ir além do que foi discutido na Cúpula da Terra promovida pela ONU em setembro de 2002 na África do Sul?

Rubens Harry Born: Esta conferência da ONU foi um fracasso total. Nós vamos conseguir aqui no terceiro Fórum Social Mundial fazer ecoar junto a outros grupos da sociedade civil e perante a opinião pública mundial a idéia de que o mundo sustentável é possível. Mas para isso governos e corporações têm que mudar radicalmente suas políticas e suas posturas ambientais. Alianças táticas e estratégicas com trabalhadores, com o Movimento Sem Terra, com indígenas, com movimentos que lutam pelos direitos humanos, pela questão de gênero é muito importante, pois tudo isso tem a ver com a sustentabilidade.

EcoAgência: O debate ambiental vem aumentando desde o primeiro Fórum Social Mundial. Por quê?

Rubens Harry Born: É um reflexo da mobilização dos que os próprios ambientalistas buscarem ter, buscando seus pares para fazer a questão da sustentabilidade, que ainda é periférica e secundária em geral na sociedade. É preciso fazer avançar também no Fórum Social Mundial. Me parece que os ambientalistas estão conseguindo fazer a sociedade discutir mais a questão ambiental e o desenvolvimento sustentável para que assim os governos possam ter isso mais central nas suas ações.

EcoAgência: Em que setores ainda há resistência para unificar a bandeira ecológica com a bandeira social?

Rubens Harry Born: Eu acho que avançou em diversos movimentos de agricultores, no movimento feminista e na questão de gênero, nos movimentos de defesa dos consumidores. Avançou em parte também nos movimentos dos trabalhadores, especialmente naquelas áreas que tem problema de saúde ocupacional. Acho que falta avançar ainda nos setores mais clássicos da esquerda, que acham ainda que a luta de classes é o eixo condutor da resolução dos conflitos sociais.

EcoAgência: Qual a sua avaliação dos primeiros passos do Governo Lula na área ambiental?

Rubens Harry Born: A ministra Marina Silva incorporou não somente no discurso e nas suas declaradas intenções propostas dos ambientalistas, mas incorporou na equipe gente que vem do movimento ambientalista. Nós temos uma expectativa muito positiva de manter um canal de diálogo não só com o governo Lula. Tenho certeza que nós vamos manter a nossa autonomia e independência para poder exercer a pressão para a implementação daquilo que a gente defende. Mas também para fazer a contra-reação porque nós sabemos que o Governo Lula já está sendo pressionada por forças conservadoras, e que ainda não vêem a questão ambiental como importante.

EcoAgência: Quais as questões ambientais mais importantes para este primeiro ano de Governo Lula?

Rubens Harry Born: Temos que mostrar que existe possibilidade de mudança, e que a mudança tem que se dar em todas as partes do país. A ministra já falou do Programa Sede Zero, a tentativa de minimizar o problema de sede, não somente nas regiões semi-áridas, mas de garantir água potável para boa parte da população. Mais de 50% das crianças de 0 a 6 anos morrem em casas que não tem água potável. A questão do saneamento em todos os municípios brasileiros é uma prioridade. Temos que aprimorar o sistema de saneamento, de água, esgoto e lixo. Este é um grande desafio para o Ministério das Cidades, em conjunto com o Meio Ambiente. É preciso o ambientalismo brasileiro começar a olhar para esta Agenda Marrom.

Atividades do Vitae Civilis no III Fórum Social Mundial:

  1. Seminário “Rio + 11: Um mundo sustentável é possível”, iniciativa do FBOMS, com apoio do Vitae Civilis na organização.
  2. “Fórum por Justiça Climática – avançando na construção do movimento global por justiça climática”, seminário do GT Clima do FBOMS, organizado com apoio do Vitae Civilis.
  3. Oficina “Perspectivas e papéis de ONGs e movimentos sociais na democratização dos regimes multilaterais e das Nações Unidas”, iniciativa do Vitae Civilis.
  4. Três eventos sobre Águas: Workshop do GT Águas do FBOMS, a oficina “Diálogo sobre Águas” e a oficina: “Humanizando a Gestão da Água”
  5. Oficinas organizadas pela Rede Mata Atlântica e Elo/RS
  6. Reuniao de ONGs e movimentos sociais do Brasil, Paraguai e Argentina para o Corredor Tri-Nacional de Mata Atlântica.

Jornalista Roberto Villar Belmonte – Roberto@ecoagencia.com.br - © EcoAgência de Notícias, janeiro 2003 - http://www.ecoagencia.com.br .


Última atualização: 06 setembro, 2011 - © EcoAgência de Notícias - NEJ-RS e PANGEA
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