De: - EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
Date: 22-jan-03
Time: 08:14:50
Há séculos, quando os primeiros colonizadores aportaram nas praias brasileiras, vislumbraram uma natureza prodigiosa. Florestas cobriam tamanhas extensões que pareciam não ter fim. Rios, lagos e milhares de espécies de aves, peixes e outros animais enchiam os olhos ávidos dos navegantes. Para estes, tratava-se de mais uma oportunidade para abarrotar de riquezas os cofres da Coroa, e os próprios bolsos. Rezada a primeira missa, partiram para a “colonização”, que consistia no uso de ferro e fogo e de mão-de-obra escravizada para obtenção do máximo de bens no menor tempo possível, degradando terras, águas e matas. Assim teve início o processo destrutivo que exauriu parcela significativa do patrimônio natural do Brasil. E esse pensamento persiste até os dias atuais, quando muitos ainda vêem na natureza uma fonte inesgotável de recursos.
Para Pádua, “a destruição ambiental no Brasil não é obra do acaso, mas fruto de um modelo perverso de ocupação do território fundado no passado colonial e ainda hoje muito presente”. Tratava-se de um modelo baseado no mito da abundância eterna dos recursos naturais, no desprezo pela natureza tropical, no domínio de formas servis e escravistas de trabalho e na ocupação elitista e monocultural do espaço. “Um modelo que, em poucas palavras, nasceu a partir do desrespeito pela natureza e pelo trabalho”, explica.
Em sua obra Um Sopro de Destruição, ele traz à tona o fato de que muito antes do que se costuma imaginar, já se criticava no Brasil a destruição do ambiente natural. Nomes como José Bonifácio e Joaquim Nabuco, entre vários outros, dedicaram-se ao tema e perceberam que a superação das práticas devastadoras passava pela implementação de reformas socioeconômicas profundas, rompendo com o legado do colonialismo: o tripé escravidão-latifúndio-monocultura. Analisando cerca de 150 textos da época, produzidos por mais de 50 autores, Pádua reconstitui pela primeira vez a crítica ambiental nos séculos XVIII e XIX, esquecida na história do pensamento social brasileiro.
O jornalista Eduardo Bueno trará sua visão sobre o processo de Colonização do Brasil, no qual se aprofundou durante a pesquisa para a série Terra Brasilis e outras obras do gênero. Em "Pau-Brasil", trata da exploração da árvore que empresta o nome ao país, desde o Século XVI, com enfoque botânico, econômico e político, destacando a ação dos contrabandistas franceses e o uso da cor vermelha na moda européia, até as tentativas atuais de preservação da espécie.
Logo, a crítica da destruição ambiental no Brasil e a busca de uma nova relação com a terra, mais benéfica e justa do ponto de vista social e ecológico, não é um fenômeno recente e importado, possui sim raízes profundas na cultura e no pensamento brasileiros. “Transformar a herança predatória que herdamos do passado colonial, a partir de uma nova ética de cuidado pela natureza e pelo ser humano, é um aspecto central para a construção de um novo país”, ressalta Pádua.
José Augusto Pádua é doutor em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e professor-adjunto do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ). É autor de livros como Um Sopro de Destruição Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista, O que É Ecologia, Ecologia e Política no Brasil e de vários artigos em livros, periódicos científicos, revistas e jornais publicados dentro e fora do Brasil.
Mais em http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT401564-1660,00.html http://epoca.globo.com/especiais/500anos/esp991011.htm
Eduardo Bueno é jornalista e tem se dedicado nos últimos anos ao estudo da história brasileira. Figurou entre 1997 e 1998 como um dos autores mais vendidos e lidos no país com a coleção Terra Brasilis, que traz títulos como A Viagem do Descobrimento, Capitães do Brasil e Náufragos, Traficantes e Degredados. Suas obras mais recentes são Brasil: uma História, A Incrível Saga de um País e Pau Brasil, que traz um pouco do modelo histórico de exploração da árvore que deu nome ao país.
Mais informações e agendamento de entrevistas com os autores: Aldem Bourscheit - aldem@ecoagencia.com.br - © EcoAgência de Notícias, 22 de janeiro 2003 - www.ecoagencia.com.br. Membro do NEJ/RS e Assessor de Imprensa da Abema (Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente) (51) 9962-4886 / (51) 9173-0249