De: - EcoAgência de Notícias
Time: 05:42:15
O ministro da educação Cristovam Buarque reafirmou ontem em entrevista coletiva em Porto Alegre um maior envolvimento das escolas públicas brasileiras com programas de educação ambiental, conforme havia afirmado a ministra Marina Silva, na semana passada, em São Paulo.
"Vamos incentivar o sentimento ético desde a primeira infância. Mas não é só o ensino relacionado com os problemas ambientais. Temos que levar, desde a primeira infância todos os temas da contemporaneidade. A criança é capaz de entender de ética muitas vezes até melhor do que vocês, já viciados com certos valores. A criança é capaz de entender o problema dos transgênicos, da clonagem. Nós temos que apresentar os problemas da contemporaneidade desde a primeira infância, incluindo aí os problemas ambientais. Elas são muito mais sensíveis, as crianças, aos problemas da natureza, do que os adultos", disse o ministro em entrevista coletiva antes da abertura do Fórum Mundial de Educação, em Porto Alegre, ontem.
Essa proposta enquadra-se na meta de elevar a qualidade do ensino no País, apresentada em seu discurso na cerimônia de abertura do evento. "A educação das nossas crianças, dos nossos adultos só será possível através de políticas claras, com investimentos dirigidos para atender aquilo que nós queremos, um país com orgulho de sua educação", disse o ministro.
De acordo com ele, o problema da educação no país será abordado em três diferentes eixos.
O primeiro eixo tem por objetivo "fazer com que o analfabetismo seja um problema do passado", por meio de sua erradicação total, nos próximos quatro anos. "Muitos dizem que é uma ambição desvairada. Mas se nós fôssemos ter ambições modestas não precisaríamos ter elegido um metalúrgico presidente do Brasil", disse, sendo bastante aplaudido. "Nós somos um governo para pisar no acelerador e dobrar à esquerda, na história do nosso País".
Outro eixo, segundo Cristóvam, vai se concentrar em um processo de melhoria na qualidade da educação básica país o qual, de acordo com Cristovam Buarque não se encerraria nestes quatro anos, mas que deverá ser iniciado. "Nada explica que um país com 1,3 bilhão de renda, com basicamente um único idioma, com uma massa de universitários e professores, nós não temos justificativa diante do mundo para continuarmos tendo um dos piores resultados educacionais entre todos os países", afirmou. "Essa escola ideal só terá o nome de decente quando nem uma única criança estiver fora da escola. E no Brasil de hoje, 3,5 milhões de nossas crianças trabalham em vez de estudar", disse. De acordo com o ministro, a qualidade do ensino será atingida investindo-se "na motivação, na qualificação e na valorização da nossos professores". Para fraseando Paulo Freire, o ministro disse que "precisamos de mais professores e cada professor a mais é um agente presidiário a menos neste país. Nós precisamos pagar melhor os nossos professores. Se nossos professores ganhassem tanto quanto nossos juízes, os nossos juízes não teriam tanto trabalho como eles têm".
Essa escola nova, de acordo com o ministro, não deverá ser atingida em quatro anos, mas que ela "não pode demorar a mostrar a sua cara". Para isso, segundo ele, são necessários investimentos na universidade, o terceiro dos eixos programáticos do ministério. "Ao longo dos últimos anos a universidade brasileira foi relegada", afirmou. "Nós não podemos adiar mais o surgimento de uma nova universidade no Brasil. "Em primeiro lugar enfrentando as emergências que ela vive, de falta de professores, motivação, equipamentos, as coisas mais simples".
De acordo com ele, é necessário criar uma nova universidade, que acompanhe as transfromações do mundo, mas que atenda as necessidades dos excluídos, do povo brasileiro. "A Universidade deve perceber que deve formar mais professores para o ensino médio, tem que se envolver no programa de alfabetização, não pode ignorar uma campanha de fome zero. Tem que fazer parte do povo brasileiro e isso exige uma nova formulação", disse.
Para o ministro, a universidade deverá fazer a ponte entre as duas novidades que o Brasil experimenta atualmente: a do Fórum Social Mundial e a da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. "Nós temos o embrião de um pensamento novo aqui e um novo governo na República, mas ainda não conseguimos elaborar ( e não adianta ter pressa) um novo modelo que, do Brasil, se espalhe pelo mundo".
Concluindo o discurso, o ministro disse que o mundo todo olha para o Brasil hoje com o sonho de que é possível construir um outro mundo, de maneira diferente das propostas vazias dos EUA e da Europa Ocidental "que têm problemas tão pequenos que nem parecem estar no planeta Terra". Para ele, uma nova proposta também não poderá surgir na África, que luta com todas as forças para sobreviver, sem tempo de pensar na utopia. "O Brasil é o único país dos maiores que pode se dar ao luxo de ter todas as tragédias da civilização e todos os recursos necessários para corrigir a tragédia, e não é por acaso. E não é por acaso que surgiram aqui o Fórum e o Lula. Não é por acaso que nós somos um país que tem tudo de recursos; e tem todos os desafios que o mundo apresenta para o planeta. Nós somos o lugar onde pode nascer um novo processo civilizatório", afirmou.
André Muggiati, REBEA (Rede Brasileira de Educação Ambiental) amuggiati@yahoo.com
www.ecoagencia.com.br .