Agosto de 1998
por João Batista Santafé Aguiar
Estas palavras do título, insculpidas em granito na sua lápide por seus filhos, resumem muito bem o que foi a vida de Zeno Simon. Será lembrado por seus amigos e familiares como um cidadão participante do seu tempo, compositor, amante ardoroso, pai exemplar, um lutador, um ecologista de primeira linha.
Zeno, nascido em Porto Alegre no dia 15 de abril de 1954, faleceu moço, depois de longa enfermidade causada pelo Câncer de Hudgkin, em 9 de outubro de 1996. Deixou dois filhos, o Guilherme, agora (em julho de 1998) com 15 anos, e a Flora, com 10, e a esposa, companheira de todas as horas, Ligia Maria Würth. Filho de pais advogados, cursou o Bom Conselho e o Colégio Anchieta e cursos específicos de Português e Matemática. Aos vinte anos, em 1975, já no quarto ano de Engenharia Química, tirou 1º lugar geral no Concurso Vestibular Unificado para a UFRGS, concorrendo para Faculdade de Física.
Antes, em 1972, havia tirado 9º lugar na classificação geral e 2º em seu curso. Interessou-se também por Artes, especialmente Música, tendo cursado três cadeiras de violino no Instituto de Artes da UFRGS. Concluiu, em 1976, curso de preparação à Engenharia Nuclear.
Foi sócio ativo de, no mínimo, três associações: Agapan - onde foi Coordenador da Comissão Técnico-Científica, Conselheiro e diretor; Coolméia - Cooperativa Ecológica, e ABES - Assoc. Bras. de Eng. Sanitária e Ambiental.
Fotógrafo amador - participou da Mostra Bienal de Fotografia Ecológica -, compositor - 2º lugar no IV Seminário Internacional de Violão do Liceu Musical Palestrina na categoria Compositor.
Com bolsa do Conselho Britânico, desenvolveu trabalho na North West Water Authority, em Birmingham, Inglaterra, de março de 1980 a maio de 1981. E até 1982 estagiou em diversas entidades de controle ambiental, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Nesta época, foi membro ativo da Friends Of The Earth. Foi Delegado do Brasil na Conferência Anual da Water Pollution Control Federation, em Detroit, Estados Unidos.
De Birmingham, em 1980, informava aos militantes da Agapan sobre os rumos do ecologismo no continente europeu, com o envio de extenso noticiário.
Recebeu o prêmio “Enaldo Cravo Peixoto” pelo melhor trabalho técnico apresentado no 17º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, em 1993.
Devemos ao Zeno, mais que a qualquer outro individualmente, o abandono da idéia de se construir um tubão para se jogar os efluentes do Pólo Petroquímico no nosso mar. Optou-se pelo tratamento nas cercanias do polo, com a construção pela CORSAN (Companhia Riograndense de Saneamento) do então modelar SITEL (Sistema de Tratamento de Efluentes Líquidos).
Trabalhou na CORSAN, no Planejamento Ambiental e Preservação de Recursos Hídricos, e no tratamento de resíduos petroquímicos. Foi Chefe do Departamento de Operação e Manutenção do SITEL - Sistema Integrado de Tratamento dos Efluentes Líquidos do Pólo Petroquímico do Sul, em Triunfo, RS. Cedido pela Corsan, quando da quase implosão do SITEL no início do governo Alceu Collares, ao Conselho de Recursos Hídricos, fazia avaliação técnica dos estudos contratados pelo Conselho, apoiou a implantação do Sistema Estadual de Recursos Hídricos. Foi membro do Comitê da Bacia do Rio do Sinos.
Como painelista, relator, palestrante, congressista ou jurado, participou de aproximadamente cem eventos internacionais, nacionais e locais, como os Congressos da ABES, das Conferências da International Association of Water Pollution Research and Control, de Seminários da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, CONFEMAS, Tribunal da Água, Conferência do Rio, em 1992.
Participou, como Conselheiro e diretor da Agapan, de inúmeros Encontros Estaduais das Entidades Ecológicas do RS.
Mais de uma vez recusou a presidência da Agapan alegando incompatibilidade com seu trabalho. Nunca deixou de colaborar com veículos de comunicação que lhe franqueavam as portas - publicou extensos artigos: por exemplo, “Carvão: Chuva Ácida viaja centenas de quilômetros”, mandado de Birmingham, Inglaterra, no Correio do Povo, e “O Nordeste é aqui!”, no AgirAzul nº 8.
Zeno foi um grande redator de textos brilhantes que não fazia questão de assinar, como, por exemplo, “A Posição da Agapan sobre o Pólo Cloroquímico de Alagoas”. Nos últimos anos, colaborava com Carlos Gustavo Tornquist no AgirAzul, onde publicaram juntos entre outros artigos: “Padrões de Emissão vs. Padrões Ambientais” e a irônica adaptação “O Pensamento Anti-ecológico — Guia para um Poluidor Bem-sucedido”.
É do Carlos Gustavo o texto que transcrevemos na página seguinte, onde relata também o enorme trabalho que Zeno e a Agapan tiveram, sem êxito, para que a Prefeitura de Porto Alegre deixasse de adquirir um incinerador de lixo.
Flávio Lewgoy, ex-presidente da Agapan, afirmou ao AgirAzul que Zeno foi um jovem de atuação destacada em qualquer evento, sobretudo pela palavra fácil e vigorosa - "Sendo engenheiro sanitarista era, coisa rara, antes de mais nada, um pensador da ética ambiental, no sentido holístico - palavra que, disse-me uma vez, era inefável. Apesar da sua erudição, sem dúvida fruto de longas horas de estudo, não fazia questão, como é comum, de ostentá-la. De inteligência penetrante, escrevia certeiras análises ecopolíticas, em textos produzidos sem esforço aparente."
Zeno nos deixou. Mas nós nos recusamos a esquecê-lo, pois como diz a lápide em seu túmulo no Cemitério da Comunidade São José, foi um grande ecologista, amigo, companheiro, paizão. Valeu, Zeno!