Porto Alegre, outubro a novembro de 1996 - O governo do Estado cedeu o Parque Estadual da Guarita, em Torres, para a Prefeitura Municipal. Sobre o assunto, AgirAzul apresenta a entrevista que segue com José Antônio Lutzenberger, presidente da Fundação Gaia, e o texto abaixo, de Augusto César Cunha Carneiro, presidente da PANGEA. AgirAzul solicitou cópia do ato de cessão à Secretaria de Turismo, que não o forneceu.
AgirAzul Qual a importância, inclusive ecológica, que o Parque da Guarita tem?
Lutzenberger O Parque da Guarita é para ser um cartão de visita do Estado em sua entrada norte junto a costa. Ele está em cima dos promontórios de Torres e junto a eles, que é o único lugar da costa gaúcha onde montanha e mar se chocam. Ele é portanto um lugar privilegiado da nossa costa. O único lugar realmente belo das nossas praias porque a maioria de nossas praias são simples faixas brancas infinitas para ambos os lados e ali nós temos uma formação rochosa belíssima com uma flora também única, endêmica. Muitas das espécies que ali existem, existem ali e em nenhum outro lugar do mundo. Por isso se concebeu ali um parque estético-ecológico, um parque concebido em cima da natureza existente com o sentido de refazê-la onde já estava devastada e acrescentar, sempre dentro de um diálogo direto com a natureza, sem plano inicial, concebendo o parque a medida que ele ia crescendo. Neste sentido, também, ele é único. É o primeiro parque no Brasil que foi feito dentro desta filosofia, sem plano inicial, sem mapa inclusive. O mapa foi a última coisa que aconteceu. Toda aquela natureza existente foi preservada, os caminhos foram feitos, e os implementos foram complementares à natureza existente e nunca impostos em cima dela.
AgirAzul Foste o administrador e implantador do Parque entre 1973 e 1978. Tu tens estado lá, como é que tens visto a situação dele?
Lutzenberger Ele ainda está bastante bonito, bastante belo e muita coisa desenvolveu-se relativamente bem. Muitas vezes até eu ficava com medo que dessem atenção, porque aí, sim, iam mudar toda a filosofia e destruir o pouco que sobra. Mas este parque precisa de uma administração adequada. Ali é preciso a administração de uma pessoa que entenda do Parque, que conheça a filosofia dele, que tenha sensibilidade naturalista, ecológica e estética e que tenha força e meios para mantê-lo e desenvolvê-lo.
AgirAzul O que achas da cessão do Parque ao Município?
Lutzenberger - A verdade é que o parque, dentro da filosofia em que foi construído, só precisa de dois ou três homens bem motivados para ser cuidado e de preferência os mesmos que o mantiveram até hoje. Esperamos que a Prefeitura tenha a sensibilidade para conservar o Parque. Estamos dispostos à retomar o trabalho lá.