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Hora de definir prioridades no uso das áreas públicas da cidade

por José Truda Palazzo Jr.*

Recentemente, numa reunião da Comunidade do Menino Deus e entorno, em Porto Alegre, realizada no Asilo Padre Cacique, o Vice-Prefeito José Fortunatti sentou à mesa com ambientalistas e líderes comunitários para discutir a locação proposta do Sambódromo municipal (eufemísticamente chamado "pista de eventos" para justificar o investimento financeiro e político na construção, mas que servirá basicamente ao Carnaval). Democraticamente, ao contrário da postura imperial da administração Tarso Genro, os atuais dirigentes municipais parecem dispostos a ouvir as opiniões de quem não se opõe à construção do Sambódromo, mas não quer tal prédio - nem os impactos advindos da sua operação - atingindo a qualidade de vida dos moradores das redondezas ou os parques e áreas verdes públicas que são um inestimável patrimônio de todos.

Tanto a nível comunitário como dos ambientalistas, parece haver unanimiade contra a instalação do Sambódromo no antigo estacionamento do MAPA, junto ao Gigantinho; por um lado, pelo evidente impacto do som e das multidões no bairro, em especial sobre os estabelecimentos de amparo à saúde e à velhice ali existentes; mas também por representar tal construção uma invasão indevida de área de parque, uma das últimas que pode ser incorporada ao conjunto verde da região para o lazer de toda a população.

Uma obra como a pretendida constitui uma clara ameaça a uma área verde adjacente, tanto pelo impacto da obra em si como de seu uso para finalidades eminentemente barulhentas como o Carnaval. Um parque não é uma coisa estática, mero enfeite do tecido urbano, mas sim um complexo patrimônio público de flora e fauna, principalmente aves, que dependem de um resguardo adequado contra agressões, sonoras inclusive, para sobreviver. Agravar um Parque Municipal como o Marinha do Brasil com um empreendimento desta natureza seria uma irresponsabilidade, que acreditamos - esperamos! - não será levada a cabo pela atual administração.

Com efeito, o tal "estacionamento do MAPA" é na verdade área integrante do Parque Marinha do Brasil, e como tal, obriga a legislação vigente, deveria ser arborizado e urbanizado como parque público, para desfrute da comunidade que já lota o Marinha nos dias de descanso; entretanto, quer-nos parecer que a Administração Popular anterior abandonou propositalmente aquela expressiva parcela do parque, na esperança de poder destiná-la a fins diversos, e, em nossa opinião, ilegais, porquanto parque público é a única destinação que pode ser dada àquela propriedade.

Não basta, portanto, que a comunidade do Menino Deus e os frequentadores do Marinha lutem contra a localização ali do Sambódromo; há que se agir vigorosamente para incorporar, em definitivo, o "estacionamento do MAPA"ao parque, para desfrute legítimo da população, como manda a lei.

Como expusemos ao Vice-Prefeito Fortunatti, estamos abertos e desejosos de colaborar na viabilização de uma alternativa locacional adequada desde que as necessárias salvaguardas ambientais e de qualidade de vida da população do entorno sejam asseguradas. O Vice-Prefeito comprometeu-se no sentido de que nesta administração, nenhum projeto desta natureza será empurrado goela abaixo da população. Acreditamos nele, mas reiteramos a necessidade de exigir, já, a implantação do Parque na área "do MAPA" para evitar que, amanhã ou depois, outro projeto de concreto e desvirtuamento venha a resultar na perda daquele que importante trecho que é parque e é público.

Defender os parques da cidade é obrigação de todos nós - faça a sua parte!.

O autor é presidente da IWC-BR - Coalisão Internacional para a Vida Silvestre. Comunique-se com ele através deste e-mail Brazilian_wildlife@nutecnet.com.br .
Texto publicado originalmente no jornal "Oi", de maio de 1997, que circula no bairro Menino Deus, em Porto Alegre.

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